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O que levou o dólar a cair abaixo dos R$ 6 — e por que isso pode durar pouco

Correção do mercado conduz moeda americana para faixa dos 5,90 reais, mas movimento pode se reverter em breve

Por Juliana Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jan 2025, 19h10 - Publicado em 22 jan 2025, 15h58

O mercado de câmbio no Brasil passa por uma trégua. Depois de estourar o nível dos 6 reais no ano passado, chegando a tocar os 6,20 reais, a moeda americana fechou esta quarta-feira cotada a 5,94 reais, com uma queda de 1,40%. É a primeira vez desde dezembro que a divisa fica abaixo dos 6 reais — e a primeira vez que fecha em 5,94 reais desde 27 de novembro, quando bateu a mesma marca. O movimento é resultado de uma pausa na busca por proteção dos investidores, dinâmica que ditou o ritmo dos negócios nos últimos meses e que levou a divisa a acumular alta de 27% contra a moeda brasileira no ano passado.

O motivo para isso, segundo analistas, é simples: um ajuste. Depois de ter precificado um cenário extremamente hostil para emergentes com a chegada de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, os investidores aproveitam para rever e recalibrar algumas posições, em um movimento de correção de preços “esticados”.

O espaço para a correção acontece após a posse do republicano na última segunda-feira, que oficializou o início do seu mandato, com a promessa de ser marcado por agendas protecionistas, de desregulamentação da economia, anti-imigração e pró-mercado. Apesar de tudo isso estar em voga, ontem, em especial, os investidores não viram indicações novas do que Trump irá fazer, de modo que o mercado já precificou a agenda “trumpista” desenhada até aqui. Diante disso, para alguns porta-vozes de mercado, houve espaço para a venda de dólares e redução de posições concentradas.

“Nada em específico aconteceu. Aparentemente, é um ‘desarme’ técnico”, afirma um gestor de uma grande casa multimercado com atuação no Brasil e no exterior, que pediu para não ser identificado. “O mercado está muito ‘comprado’ (em dólar) e não teve fluxo de saída suficiente pra sustentar a alta, depois de toda a venda (de dólar em leilões) do Banco Central.”

A isso se soma o pessimismo com a situação do Brasil, que enfrenta dilemas fiscais não resolvidos desde o anúncio do tímido pacote fiscal do governo no ano passado. Embora seja um momento sensível para o país, de continuidade de deterioração das contas públicas, boa parte desse cenário também já está nos preços dos ativos brasileiros — o que pode significar que eles embutiram um nível de ceticismo maior do que o necessário.

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“O dólar subiu muito, foi um movimento exagerado”, afirma o analista de investimentos independente Rodrigo Cohen. “Essa alta do dólar já precificou que o governo não conseguiria controlar os gastos, que o arcabouço fiscal não daria certo e que é o que está acontecendo. Então, para mim, o mercado agora está se ajustando.”

Nada disso significa, porém, que a trégua para o câmbio é duradoura. Na visão de gestores e analistas consultados por VEJA, a valorização do dólar contra o real tem tudo para continuar, à medida que Trump anunciar de fato novas medidas que levem os investidores a se refugiar na moeda americana e conforme a situação fiscal do governo brasileiro piorar. “Não tem notícias, na minha opinião, muito positivas”, afirma Cohen.

Lá fora, a atenção está especialmente voltada para a condução da política monetária americana, que pode levar o ritmo de queda de juros a se reduzir, conforme decisões tomadas pelo governo provoquem a alta da inflação. Nesse contexto, o aumento do juro americano tem força para “enxugar” a liquidez global, retirando recursos de países emergentes — e motivando uma desvalorização cambial. “Nossa carteira continua ‘long’ (comprada) em dólares contra uma cesta de moedas globais”, afirma o gestor. “Embora não tenham trazido nada novo até agora, o novo governo americano vai fazer o que está falando. Não é retórica. Isso é negativo para ativos brasileiros.”

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