O impacto na marca LaLiga após caso de racismo contra Vinicius Junior
Neste domingo, o astro brasileiro foi chamado de 'macaco' pela torcida adversária; competição e autoridades foram lenientes

Deve começar a doer no bolso. O caso do brasileiro Vinicius Junior, vítima de um novo ataque racista, neste domingo, 21, na derrota do Real Madrid para o Valencia, por 1 a 0, pela LaLiga Santander, primeira divisão do campeonato espanhol de futebol, ecoará nos cofres da entidade, avaliada em 4,8 bilhões de euros. “A imagem da LaLiga está perdendo valor perante o mercado, uma vez que não está sabendo combater, de forma eficaz, os inúmeros atos racistas presentes no Campeonato Espanhol, a grande maioria contra o Vini Jr”, afirmou Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.
Neste domingo, parte da torcida do Valencia chamou o brasileiro de “macaco”. O jogo chegou a ficar paralisado por cerca de oito minutos no segundo tempo. O brasileiro foi expulso após confusão com o goleiro adversário.
Após o caso, o presidente da LaLiga, Javier Tebas, foi às redes se pronunciar sobre o caso e alegou que o astro brasileiro precisava “se informar melhor sobre as ações de LaLiga contra o racismo”. “Há uma normalização doentia da situação, confirmada pelas palavras do principal executivo da competição e da imprensa local, que trataram o assunto da pior forma possível: culpando a vítima”, lamentou Armênio Neto, especialista em novos negócios da indústria do esporte. “Repercussão negativa, intensa e global, pode ter vários efeitos no que diz respeito ao produto. No médio prazo isso interfere na qualidade do produto, sua audiência e valor de mercado”, completou.
VEJA procurou o banco Santander, dono dos naming rights da competição, e que tem o Brasil como seu maior mercado, para comentar o posicionamento da liga espanhola. Até a publicação desta reportagem, o banco não respondeu.
Em resposta a Tebas, Vini Junior disse que ele prefere atacá-lo a criticar os racistas das torcidas espanholas. Ele também reiterou que a imagem de LaLiga está sendo abalada com os seguidos episódios de discriminação e a negligência das autoridades competentes. “Quem licencia qualquer produto da LaLiga no Brasil, inclusive os direitos de transmissão, deveria devolver direitos enquanto isso não mudar. Só assim as coisas mudariam”, afirmou Bruno Maia, sócio da Feel The Match e especialista em inovação e novas tecnologias do esporte.
Até março, a LaLiga Santander tinha registrado oito reclamações na Justiça por racismo contra Vinicius Junior na temporada. Em nota divulgada após a partida, a organização declarou que vai investigar os “incidentes”. A liga também informou que já solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o caso e, caso necessário, vai tomar “todas as medidas cabíveis”.
A ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) afirmou que vai notificar autoridades espanholas e a LaLiga após os ataques racistas. “O governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil. Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”, afirmou a pasta, em nota.