O impacto da bandeira vermelha da conta de luz na inflação
Elevação para a bandeira vermelha patamar 2 deve impulsionar os preços de setembro, com um impacto estimado em 0,42 ponto percentual, aponta FGV
A ativação da bandeira tarifária vermelha patamar 2 já em setembro vai deixar a conta de luz mais cara e exercer uma pressão sobre a inflação nos próximos meses, já que é um dos componentes mais influentes no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). É que dizem especialistas consultados por VEJA. Esta é a 1ª vez em pouco mais de três anos que a bandeira vermelha patamar 2 é acionada. O acréscimo na conta é de 7,877 reais a cada 100 kWh consumidos.
André Braz, economista da FGV, diz que a bandeira vermelha patamar 2 deve impulsionar a inflação de setembro, com um impacto estimado em 0,42 ponto percentual. “A inflação média pode se aproximar de 0,6%, e só o aumento da energia deve ser responsável por mais da metade desse índice”, explica.
“Setembro vai ser um mês onde a energia vai ser a principal influência”, diz Braz. Mas não a única, ele acrescenta que outras pressões inflacionárias, como os aumentos no transporte público e nos preços dos cigarros, reforçam a expectativa de uma alta significativa na inflação para o mês.
“Tem um acúmulo de pressões inflacionárias em setembro que não vai permitir que essa inflação fique em patamar negativo, como foi em agosto. Segundo a nossa inflação aqui da FGV, mês de agosto ficou com – 0,16% em queda. Isso não deve se repetir de jeito nenhum em setembro, por conta de todos esses preços administrados em alta”, diz Braz.
A visão de Andréa Angelo, da Warren Investimentos, também vai nessa linha.. Segundo ela, a bandeira vermelha deve adicionar 0,43 ponto percentual ao IPCA de setembro, elevando a projeção do índice para 0,63%, ante uma estimativa anterior de 0,31%. “Esperávamos a bandeira amarela em setembro, mas a decisão de manter a vermelha fez com que nossa estimativa de inflação para o mês subisse consideravelmente,” diz Andréa. A Warren agora projeta um IPCA de 4,45% ao final do ano, próximo ao teto da meta de 4,5%.
George Sales, coordenador do Mestrado Profissional em Controladoria e Finanças da Fipecafi, cita o efeito multiplicador da alta na tarifa de energia elétrica. “A energia é um insumo essencial para a produção e os serviços, e sua elevação impacta diretamente outros preços,” diz.
Ele menciona que a recente elevação das projeções de inflação para o final de 2024 reflete a preocupação com essas pressões. Nesta segunda-feira foi divulgado o relatório Focus com a projeção de mercado de IPCA a 4,26%, na sétima semana seguida de alta nas estimativas dos analistas.
“O que impacta na vida da gente é que o Banco Central faz a política monetária baseado sob o regime de metas de inflação, então a taxa básica de juros do país tende a não diminuir. Porque se cortar a taxa de juros num cenário de aumento de inflação, isso pode acabar agravando essa condição de aumento de inflação”, diz Sales.
Estratégia é eficaz para reduzir a demanda
Virginia Parente, especialista do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP), defende a adoção das bandeiras tarifárias como uma estratégia eficaz de gestão de demanda. “Embora cause desconforto a curto prazo, a política de bandeiras tarifárias ajuda a evitar aumentos mais drásticos no futuro,” diz Parente. Ela enfatiza que o objetivo é incentivar o uso mais racional da energia, especialmente em períodos de estiagem, contribuindo para a preservação dos reservatórios hidrelétricos. Local onde estão grandes hidrelétricas, a região Norte do país enfrenta seca e o Operador Nacional do Sistema (ONS) deverá acionar as usinas termoelétricas mais cedo este ano
“ A duração da tarifa mais cara da luz vai depender das chuvas, “A duração tem a ver com ultrapassar o período de seca e estiagem, aguardando o início das chuvas de verão e o restabelecimento do equilíbrio dos reservatórios hidrelétricos que funcionam como estabilizador , quando nós temos flutuações em fontes intermitentes de energia, como a eólica e a solar”, afirma.