Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

O efeito rebote dos benefícios concedidos por Bolsonaro

Benesses com Auxílio e FGTS aumentam a sensação de poder aquisitivo, mas têm potencial de aumentar o endividamento da parcela mais pobre da população

Por Luana Zanobia Atualizado em 20 out 2022, 19h41 - Publicado em 20 out 2022, 16h24

 O governo de Jair Bolsonaro (PL) lançou diversos programas sociais e concedeu uma série de benefícios nos últimos meses, por causa da disputa a presidência contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na tentativa de capturar o eleitorado de baixa renda, principal base aliada do petista. Mas as benesses concedidas podem ter um efeito rebote e se transformar em uma grande dor de cabeça para o próximo chefe do executivo, quiçá para o próprio Bolsonaro se reeleito.

Como mostra reportagem de VEJA, desde o início da campanha do segundo turno, em 3 de outubro, o governo anunciou sete medidas envolvendo benefícios sociais. Em 18 dias corridos de campanha, isso significa um anúncio a cada dois ou três dias.  Na esteira desses benefícios estão o empréstimo consignado do Auxílio Brasil e o FGTS futuro. Este último, aprovado nesta semana, passa a considerar no cálculo o recebimento futuro do funcionário para o financiamento do imóvel no programa Casa Verde e Amarela. A medida funciona como um consignado do FGTS. Em vez do dinheiro ser depositado no fundo, o benefício é descontado das parcelas do financiamento.

Embora momentaneamente as medidas gerem maior poder aquisitivo para a população de baixa renda, elas têm potencial para aumentar o endividamento das famílias e desfigurar a função do benefício, que é de ampliar a renda. No caso do FGTS futuro, o cidadão assume uma dívida sem a certeza de que terá seu emprego mantido até a quitação completa do financiamento. “O cidadão assume uma dívida contando com renda futura que pode não se materializar. Se for demitido ou tiver redução salarial, o FGTS será reduzido proporcionalmente, e o orçamento ficará mais apertado”, diz Marcia Dessen, planejadora financeira e diretora da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).

Os riscos também são altos para o crédito consignado, que teve aumento da margem da renda que pode ser comprometida em até 40% para os beneficiários do Auxílio Brasil. Embora o crédito consignado seja uma linha mais barata, aumentar esse limite em meio a um cenário de alta dos preços e corrosão da renda pode comprometer ainda mais a saúde financeira das famílias. “Quem compromete 40% dos 400 reais – valor usado como base de cálculo que está contemplado para o próximo ano – terá o benefício reduzido em 160 reais pelos próximo dois anos”, calcula Dessen. “Com esse empréstimo, a família passa a receber então 240 reais. Se a renda já estava apertada, ficará mais ainda com a renda maior”, diz.

Para os especialistas entrevistados por VEJA, a concessão de crédito pode fazer as pessoas se endividarem no momento errado – de alta de juros. Sem a confirmação dos 200 reais adicionais para a continuidade do benefício no valor atual de 600 reais, a tomada de crédito é vista como inoportuna pelos economistas. A incerteza quanto ao valor do Auxílio Brasil no longo prazo, junto ao aumento da tomada de crédito, pode comprometer ainda mais a renda das famílias. Ricardo Macedo, economista e professor da Facha, explica que o empréstimo atrelado ao Auxílio não é cancelado em caso de perda do benefício ou redução do valor. Como a dívida foi contraída e essa população apresenta grande volatilidade na renda, por representar a maior parcela no grupo de desempregados ou em empregos informais, o risco de endividamento é alto. “É tentador, mas o momento não é propício para financiamentos em qualquer uma dessas modalidades”, diz.

Continua após a publicidade

Além disso, os economistas alertam sobre as incertezas para a recuperação da economia no próximo ano. As projeções de crescimento econômico indicam um ritmo mais lento, com um PIB de apenas 0,5%. “Caso o desemprego volte a aumentar e a economia não aqueça como esperado, isso pode aumentar sim o endividamento dessas famílias”, diz Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos.

As medidas são lançadas em um momento em que o número de endividados cresce. A parcela de endividados atingiu um novo recorde, alcançando 79,3% do total de lares brasileiros em setembro, totalizando mais de 60 milhões de pessoas endividadas ou inadimplentes no país, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A situação, segundo Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA, pode ser reflexo de uma série de fatores, como alta dos juros e queda do poder aquisitivo devido à inflação. “As medidas recentes podem contribuir para novo aumento do endividamento, principalmente porque são voltadas para um público mais pressionado, que é o de menor renda. Neste caso, pode ajudar a ampliar uma outra estatística, que é a de inadimplência, que ocorre quando o indivíduo deixa de pagar ou tem alguma parcela da dívida em atraso”, diz.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.