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O dilema da inflação: BC vê pressão de baixa, mesmo com alta de alimentos

Serviços puxam IPCA para baixo, mas risco fiscal e auxílio emergencial pressionam para cima. Copom manteve Selic a 2%

Por Luisa Purchio Atualizado em 22 set 2020, 12h53 - Publicado em 22 set 2020, 12h31

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nessa terça-feira, 22, traz um alerta para fenômeno duplo que influencia a inflação do país e que é fundamental para as próximas decisões de política monetária da instituição. Por um lado, setores como serviços se recuperam lentamente e sua ociosidade causam uma pressão deflacionária – o que pode se intensificar ainda mais caso a pandemia se alastre por mais tempo, gerando também um aumento do nível de poupança devido a aversão ao risco por parte dos consumidores. Por outro lado, no entanto, o aumento do risco fiscal do país pode ocasionar um aumento do prêmio cobrado pelo mercado para oferecer crédito, gerando pressão inflacionária. Além disso, os programas de estímulo de crédito e de renda para a população, como o auxílio emergencial, podem desequilibrar o balanço de riscos, fazendo com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada devido à pandemia, gerando assim mais pressão nos preços. Este fator, por exemplo, teve reflexos nos preços de arroz, que causou certa celeuma política nas últimas semanas.

Por isso, o Copom manteve a taxa de juros a 2% ao ano, mas colocou algumas condicionantes no radar para que ela se mantenha nesse patamar. Entre elas, está a necessidade de monitorar o comportamento da inflação nos próximos meses e continuar com a agenda de reformas fiscais no país. Caso o ajuste fiscal não ocorra, os economistas foram taxativos: a Selic pode subir. O cenário é, portanto, de espera, afinal as incertezas causadas pela pandemia da Covid-19 impedem uma previsão mais clara neste momento sobre o comportamento dos preços. O futuro é incerto porque, assim como em outros países, enquanto a população não está imunizada ao vírus, podem surgir novas ondas de infecção que pressionem por novos fechamentos da economia e aumentem o desemprego e o nível de insegurança na população, impactando negativamente o consumo. Além disso, o término dos efeitos dos auxílios emergenciais coloca ainda mais nuvens no horizonte do consumo a partir do ano que vem. Mesmo diante de tantos pontos de interrogação, os analistas esperam uma “recuperação parcial, similar à que ocorre em outras economias, onde os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos”.

Em relação à taxa básica de juros da economia, o Comitê pontuou que os juros baixos por muito tempo podem causar volatilidade nos preços e impactar no bom funcionamento e na dinâmica do mercado de capitais e do sistema financeiro. Por isso, as novas reduções na taxa de juros devem ser feitas com cuidado e de forma gradual, além de serem necessárias mais definições sobre a inflação e a atividade econômica. Além disso, o Copom atrelou o novo instrumento de política monetária, o forward guidance, ou seja, a sinalização sobre o comportamento da Selic no futuro — novo mecanismo antecipado na penúltima reunião do órgão –, ao regime fiscal e “à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo”.

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Há, ainda, expectativa de aumento da inflação ao consumidor em um curto espaço de tempo, devido a “alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade”. Já os preços administrados devem variar pouco, com destaque aos planos de saúde já em setembro e para a queda do preço da gasolina a partir de outubro. O Copom cita inflação de 2,1% para 2020, de 2,9% para o ano que vem e de 3,3% para 2022, de acordo com a pesquisa Focus. A previsão da Selic, nesse cenário, por sua vez, é de 2% até o final de 2020, se elevando para 2,5% em 2021 e 4,5% em 2022.

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