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O ajuste fiscal do governo é pífio, diz Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro

O economista critica o pacote anunciado em novembro pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad

Por Juliana Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 dez 2024, 06h00

Ceticismo. Essa é a palavra que descreve o sentimento do economista Carlos Kawall para 2025 no Brasil. Ex-secretário do Tesouro Nacional e fundador da gestora de patrimônio Oriz Partners, Kawall orbita os dois lados do balcão — governo e mercado financeiro — e tem uma conclusão direta sobre o ajuste fiscal anunciado pela equipe econômica: “pífio”. A seguir, os principais trechos de uma conversa com ele.

Por que o pacote fiscal causou tanta frustração? O pacote é pífio e veio em uma roupagem de sucesso, com o ministro Haddad anunciando uma nova benesse, que é a isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 000 reais. Falou-se em compensação fiscal, mas, ainda que fosse na mesma magnitude, centavo a centavo, o efeito é expansionista no consumo. É uma mensagem populista.

O que o governo deveria ter feito? É preciso compatibilizar, no mínimo, o crescimento das despesas obrigatórias com as regras do arcabouço fiscal. Em saúde e educação, poderia ter sido alterada a indexação dos gastos para os 2,5% estabelecidos no arcabouço. Além disso, há o seguro-desemprego: até 2022, os números seguiam a trajetória da taxa de desemprego, mas, nesses últimos dois anos, eles não param de subir, mesmo com o desemprego em queda. Cabia ao governo agir. Como tudo envolve o Congresso, precisava ser algo com durabilidade, e não foi isso que foi feito.

Existe algum cenário em que o ajuste fiscal produza efeitos na economia? Eu sou cético quanto a produzirmos um ajuste fiscal de fato. Teremos um ano complexo em 2025, saindo de um produto interno bruto forte e acima do esperado, com taxa de desemprego nas mínimas históricas, para um contexto de juros muito altos. O mercado já precifica (taxa Selic) algo perto de 14% ao ano. É difícil imaginar um crescimento da economia na atual velocidade com o juro que temos. E agora, com a inflação em alta, começa a aparecer a contaminação do câmbio, que até então foi muito pequena. Isso pode se intensificar, e representa mais pressão sobre os nossos ativos, como a bolsa e o real.

Quais outros fatores devem ditar o rumo da economia no Brasil? Teremos desafios com a inflação e a pressão do câmbio. Nos Estados Unidos, o Fed (banco central americano) opera com um quadro benigno no mercado de trabalho e inflação mais baixa, mas a inflação parou de melhorar. Ela não voltou a subir, mas os dados não atestam um declínio. Por isso, houve uma reprecificação grande do ciclo de cortes de juros por lá. Há dois meses, o mercado precificou o juro em 2,9% no fim do ano que vem. Agora, está em 3,8%. É um contexto bastante desafiador para emergentes.

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Como o senhor avalia a transição no Banco Central? A transição superou as expectativas, em que pesem dúvidas sobre como será a gestão de Gabriel Galípolo. Embora o BC tenha no cerne decisões colegiadas, é um órgão em que o presidente tem um peso grande no processo e na legitimidade. O mercado deu o benefício da dúvida. O ponto agora é como a política monetária será combinada com a agenda fiscal. Será um período de muita pressão sobre o BC.

Publicado em VEJA, dezembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 9

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