Mourão cobra de Paulo Guedes envio de dinheiro para proteger a Amazônia
O vice-presidente tem se queixado da demora na liberação de recursos empenhados para a manutenção das Forças Armadas no combate ao desmatamento ilegal
O vice-presidente Hamilton Mourão está bravo com a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. O cerne do imbróglio envolve a liberação de 120 milhões de reais previstos para a execução da Garantia da Lei e da Ordem, decretada pela presidente Jair Bolsonaro em maio, permitindo o envio de militares das Forças Armadas para combater o desmatamento na região da Amazônia. O Ministério da Defesa, sob tutela de Fernando Azevedo e Silva, tem arcado com os parquíssimos recursos já empenhados na manutenção dos militares nas florestas. O ministro da Economia não tem participado de forma efetiva das tratativas com os investidores europeus, agenda que tomou conta dos compromissos de Mourão nos últimos meses. Guedes tem se poupado de reuniões presenciais, por causa da idade avançada e o receio de ser infectado pela Covid-19.
A equipe do ministro da Economia já foi avisada e trabalha para liberar os recursos ainda nesta semana, para o alento de Mourão e Azevedo e Silva. O homem forte da economia que tem tomado as frentes nas tratativas é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que articulou o encontro com os investidores na última semana. Oriundo da iniciativa privada, o presidente da autoridade monetária do país conhece pessoalmente alguns dos signatários das manifestações contrárias à política ambiental do governo de Jair Bolsonaro e recolhe as demandas informalmente para desenhar uma resposta à altura do almejado pelos estrangeiros.
No ano passado, a polêmica em torno das queimadas na Amazônia levou o presidente Jair Bolsonaro a decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), em que as Forças Armadas atuariam diretamente na fiscalização da floresta. Para isso, o Ministério da Defesa recebeu 600 milhões de reais, oriundos da repatriação de recursos feita pela Operação Lava-Jato. Em 2020, segundo o Ministério Público Federal (MPF), deveriam ser empregados 60 milhões de reais na operação, o que equivale a quase 80% de todo o orçamento anual do Ibama. No entanto, uma parte ínfima foi empenhada até o momento, o que resultou em uma ação de improbidade administrativa e um pedido do MPF para afastar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles do cargo. O órgão o acusa de desestruturar dolosamente os mecanismos de proteção ambiental.
Salles, por sua vez, amarga cada dia mais a insatisfação de seus pares. O vice-presidente e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem se queixado da atuação do responsável pela pauta ambiental do país, argumentando que as declarações e políticas de Salles têm afastado investimentos do país, graças à péssima imagem do governo no exterior. Mourão reclama que, por causa do que classifica como pouco apreço do ministro pela pauta ambiental, Salles não disponibiliza equipes para que, em consonância entre a vice-presidência e o Meio Ambiente, os assessores e secretários possam ter pontes de diálogo para engendrar as medidas de combate ao desmatamento. De acordo com interlocutores de Mourão, Salles não confia nos assessores e membros mais antigos do Ministério do Meio Ambiente, tampouco nos presidentes de órgãos sob o guarda-chuva da pasta, como o Ibama.
Enquanto o governo não se acerta quanto a uma política ambiental concisa e um discurso mais duro em ojeriza ao desmate e exploração ilegal de territórios na Amazônia, o Brasil bate recordes e mais recordes nos índices de desmatamento. No ano passado, o monitoramento de desmatamentos por satélite registrou uma área de derrubada de 10.129 quilômetros quadrados, um aumento de 34% em comparação a 2018. E, como deixou de ser assunto apenas de ONGs há muito tempo, junto das árvores, o país assiste à queimada de bilhões de reais em investimentos.