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Mercado se preocupa mais com risco fiscal que com “dança das cadeiras”

Dólar comercial fecha em alta de 0,44%, a 5,77 reais, e Ibovespa, em 0,56%, a 115,4 mil pontos. Investidores ficam otimistas com Executivo menos ideológico

Por Luisa Purchio Atualizado em 30 mar 2021, 09h34 - Publicado em 29 mar 2021, 19h22

O real começou a semana em forte desvalorização, refletindo o agravamento da pandemia, a instabilidade no poder Executivo do país e, principalmente, o receio do não cumprimento do teto de gastos em 2021. O dólar comercial fechou em alta de 0,44%, a 5,7668 reais nesta segunda-feira, 29. Já o Ibovespa encerrou em leve alta de 0,56%, a 115.418,72 pontos, puxado principalmente pelo aumento da compra de papeis ligados às commodities.

Por volta do meio dia, a preocupação dos investidores com a aprovação de um Orçamento pouco factível levou o dólar a bater 5,80 reais e o Ibovespa a encostar nos 114,1 mil pontos. Em entrevista publicada ontem no jornal Financial Times, António Guterres, secretário-geral da ONU, alertou sobre risco de calote em países em desenvolvimento. Citando o Brasil, Guterres afirmou ainda que a redução do prazo médio da dívida brasileira pode se tornar insustentável. Já a súbita reforma ministerial promovida em Brasília não impactou as ações.

“Não só o dólar, mas os juros futuros também foram afetados pela incerteza fiscal”, diz Romero Oliveira, chefe de renda variável da Valor Investimentos. “A qualidade do orçamento e sua execução estão sendo muito questionados e o medo de furo no teto de gastos levou o mercado a pedir um prêmio de risco maior”, diz ele.

Além disso, os números da pandemia estão bastante preocupantes, com novos recordes na média móvel de mortes diárias decorrentes de Covid-19. Mesmo com os avanços na vacinação, a preocupação sobre quanto tempo vai durar a pandemia no país pesa no curto prazo e se reflete no dólar, o principal indicador de risco do país.

A segunda-feira também foi dia de muitas saídas de cargos em Brasília. Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, pediu demissão após pedido de Bolsonaro. O mesmo ocorreu ao ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que desde a eleição do presidente dos EUA, Joe Biden, vinha sendo pressionado a deixar o cargo. A gota d’água, porém, foram as acusações à senadora Kátia Abreu de defender a chinesa Huawei no leilão do 5G, o que ampliou a crise de Ernesto com o Senado. José Levi, ministro chefe da Advocacia Geral da União (AGU), também deixou o governo. André Mendonça, por sua vez, deixou o cargo de ministro da Justiça para reassumir a AGU.

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Apesar de denotar instabilidade política, a “dança das cadeiras” ainda não fez preço e é vista mais como positiva que negativa pelos investidores. “A sinalização é de que Bolsonaro tem buscado medidas mais pragmáticas e menos ideológicas, o que certamente é positivo para o mercado”, diz Oliveira, da Valor Investimentos.

Commodities

A bolsa brasileira conseguiu se manter no patamar positivo graças ao bom desempenho dos papeis das empresas ligadas às commodities, como minério de ferro e carne bovina. Vale, Petrobras, Minerva e Taesa estão entre as maiores altas. A forte recuperação da economia da China, prevista para 9%, e dos Estados Unidos, prevista para 7%, principais parceiros comerciais do Brasil, se somam à desvalorização do real e levam a um otimismo sobre a alta nas exportações brasileiras. “O pacote chinês já contém muita coisa de infraestrutura e o que está sendo trabalhado nos Estados Unidos é muito focado em logística e estradas. Isso continuará aumentando muito a demanda por minerais e alimentos”, diz Welber Barral, ex-secretário nacional de Comércio Exterior e estrategista do banco Ourinvest.

Leia também:

  • Inflação virou tema recorrente nos Estados Unidos.
  • Cai volume de crédito real para empresas e aumenta inadimplência.
  • BRF dribla pandemia com videoauditorias.
  • Petrobras confirma que gerente foi demitido por “insider information”.
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