Brasil deve caminhar para 2º ano dentro da meta de inflação, prevê mercado
Estimativa ronda em torno de 3,9%, ficando dentro do intervalo da meta. Juros ainda altos e desaceleração das economias podem ajudar a conter os preços

O Brasil encerrou o ano de 2023 com uma inflação de 4,62%, acima da média de 4,55% esperada pelo mercado, mas ainda cumprindo o limite de 4,75%, ficando pela primeira vez dentro do limite de tolerância desde 2020. Para o próximo ano, no entanto, a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) passará de 3,25% para 3%. Com uma meta menor, os desafios para cumprir a inflação também serão mais desafiadores em um país que não possui um histórico favorável de controle de preços.
No entanto, as projeções para o ano fogem dessa tendência inflacionária e são mais otimistas. As previsões apontam para uma certa desaceleração, com uma estimativa em torno de 3,9%. “Isso se alinha com a meta estabelecida para o ano seguinte, que é de 3%, mantendo-se dentro do intervalo de tolerância”, diz o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV.
Segundo o economista, apesar das intempéries que podem surgir no percurso, especialmente diante de riscos climáticos, instabilidades fiscais e tensões geopolíticas, a política monetária emerge como uma ferramenta para mitigar possíveis tendências inflacionárias. “Mesmo com a atual redução das taxas de juros pelo Banco Central, as projeções indicam que a Selic deverá encerrar o ano em 9%, um patamar ainda considerado elevado, atuando como freio para o consumo e investimentos”, diz Braz. É importante lembrar também o efeito defasado dos juros, que também deve ajudar a conter efeitos inflacionários.
A desaceleração da economia mundial também surge como um fator positivo, já que grandes economias, como os Estados Unidos, buscam controlar a inflação, o que, por sua vez, pode limitar o aumento nos preços de commodities. Contudo, há riscos significativos que podem impactar negativamente a contenção da inflação. “O principal deles está relacionado ao fenômeno climático El Niño, que pode desorganizar as safras agrícolas de 2023 e 2024. O atraso no plantio e colheita de grãos essenciais, como milho, soja e trigo, pode resultar na frustração dessas safras, elevando os preços das proteínas e das carnes, uma vez que os animais consumidos dependem desses grãos em suas rações”, explica Braz.
Outro risco a ser considerado é o fiscal, associado à necessidade de o governo cumprir sua meta fiscal. Aumentos de gastos podem fragilizar ainda mais a economia, levando à desvalorização do real frente ao dólar e gerando pressões inflacionárias. Além disso, conflitos internacionais, como os entre Rússia e Ucrânia, e Israel e Hamas, representam uma ameaça constante, podendo influenciar negativamente a estabilidade regional e global, afetando os mercados e os preços das commodities.
Embora as projeções apontam para uma possível desaceleração inflacionária, a incerteza paira sobre as decisões futuras, sendo imperativo um gerenciamento cauteloso por parte das autoridades econômicas. O papel crucial da política monetária, aliado ao efeito defasado dos juros e à desaceleração global, oferece perspectivas otimistas. No entanto, a atenção deve ser redobrada diante dos riscos iminentes, como os potenciais impactos do El Niño na produção agrícola e as instabilidades geopolíticas. Em meio a essas incertezas, a condução fiscal será um elemento chave para guiar o Brasil em direção a um cenário de inflação controlada e crescimento sustentável.