Mercado financeiro reage mal ao desentendimento entre Bolsonaro e Guedes
Ibovespa fecha em queda de 1,46%, a 100.647 pontos; com aumento do risco fiscal após crítica pública do presidente a plano da equipe econômica
Após mais um dia de sinais fortes de desalinhamento entre o governo Bolsonaro e a equipe econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Ibovespa teve queda significativa nessa quarta-feira, 26. A bolsa brasileira caiu para abaixo de 100 mil pontos por volta das 14h45, mas recuperou as perdas no final da tarde e caiu 1,46%, a 100.647 pontos. A queda drástica ocorreu após a fala do presidente Jair Bolsonaro em um evento em Minas Gerais criticando publicamente os planos de Guedes para o Renda Brasil. O programa social que prevê fim de alguns benefícios, entre eles o abono salarial, se tornou controverso na visão do presidente, que está trabalhando para aumentar sua popularidade. Na visão de Bolsonaro, acabar com programas já existentes para engendrar um novo com valor considerado baixo por ele não vale a pena. “Está suspenso. Vamos voltar a conversar. A proposta como a equipe econômica apareceu para mim não será enviada ao Parlamento”, disse o presidente, afirmando ainda que não concorda em transferir dinheiro de “pobre” para “paupérrimo”.
O que mais preocupa o mercado financeiro é que a falta de um consenso entre a agenda política e desenvolvimentista de Bolsonaro e a equipe de Paulo Guedes, de olho no ajuste fiscal do país. “Esse conflito sinaliza que pode vir um gasto público maior que se imagina, agravando a questão fiscal”, diz Paloma Brum, analista da Toro Investimentos. O equilíbrio fiscal é a pedra fundamental para o desenvolvimento econômico de um país emergente como o Brasil, e está cada vez mais em xeque. No primeiro semestre de 2020, a dívida bruta do governo já soma 6,15 trilhões de reais, 85,5% do PIB, e pode chegar a 100% do PIB até o final do ano, com déficit público no governo Federal de 817,8 bilhões. Quando somados à conta estados e municípios, o déficit público pode chegar a 912,4 bilhões de reais, ou seja, 13,2% do PIB – já incluindo projeção de 154,4 bilhões de reais da extensão do auxílio emergencial.
“A preocupação dos investidores é que o maior endividamento do governo sem deixar claro como pagará a conta incorrerá em taxas de juros mais altas”, diz Brum. Essa preocupação se refletiu na alta dos juros longos nesta quarta-feira. O DI para janeiro de 2025 terminou o dia em alta de 3,8%, a 5,98%, a maior desde o final de maio. Quando o número está alto significa que os investidores estão cobrando uma alta taxa de retorno para investir no país. Acompanhando a subida, o dólar comercial fechou em alta de 1,62%, a 5,6164 reais, a maior desde o dia 20 de maio.
Papéis descem
Apenas oito papeis da bolsa brasileira terminaram o dia em alta hoje. A Hering teve leve alta, mas fechou praticamente no zero a zero, e a Raia Drogasil com alta de 0,47%. Já a NotreDame Intermédica teve alta de 3,24% após a aquisição de uma nova companhia, o mesmo que ocorreu com a Magazine Luiza, que fechou em alta de 2,44%. Já Marfrig, Suzano, Vale e Klabin subiram por pertencerem a setores resilientes em momentos de maior aversão ao risco e, por serem exportadoras, se beneficiam do aumento do dólar. A Tutvs, por sua vez, única representante de tecnologia do Ibovespa, que vem crescendo desde março, fechou em mais alta de 0,93%.
Impulsionadas pelo setor de tecnologia, muito mais presente no mercado dos EUA, as bolsas americanas tiveram alta. A Nasdaq bateu mais um recorde e fechou em alta de 1,73%, a 11.665,06 pontos. Já o S&P 500 subiu 1,02%, a 3.478,73 pontos, e