Mercado de trabalho começa a se estabilizar, mas ainda pesará na inflação
Massa de rendimentos bate recorde em fevereiro e indica que o consumo das famílias continua sustentando a economia e pressionando os preços

O mercado de trabalho dá sinais de que começa a se estabilizar, segundo os dados de emprego e desemprego divulgados nesta sexta-feira 28 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora siga em níveis historicamente baixos, a taxa de desemprego subiu para 6,8% no trimestre encerrado em fevereiro, ante 6,1% no trimestre encerrado em novembro de 2024. Embora a estabilidade seja uma má notícia para os 7,5 milhões de desempregados, os analistas veem o dado como positivo, pois o esfriamento da economia pode ajudar a conter a inflação.
A ajuda, porém, não virá tão cedo. “Os dados sugerem um início de ajuste no mercado de trabalho, mas os salários continuam pressionados, sem muito alívio para a inflação à frente”, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. Desde o ano passado, o baixo desemprego favorece reajustes salariais acima da inflação, além de elevar o salário inicial – aquele oferecido pelas empresas para contratar um funcionário.
Com isso, em fevereiro, o rendimento bruto habitual dos trabalhadores foi de 3 387 reais por mês em média. A cifra é 1,3% maior que a registrada em novembro de 2024, e 3,6% superior à de fevereiro do ano passado. A combinação de desemprego baixo, ganhos salariais reais e recorde de trabalhadores com carteira assinada levou a outro recorde em fevereiro. Segundo o IBGE, a massa de rendimento real habitual totalizou 342 bilhões de reais. O montante ficou em linha com o de novembro, mas é 6,2% maior que o de um ano atrás. A estabilidade em relação a novembro também foi destacada pelos analistas. “Os salários seguem pressionados, mas a massa salarial dá sinais de estabilização”, diz Borsoi.
Para Volnei Eyng, executivo-chefe da gestora Multiplike, o aumento da renda dos trabalhadores “significa que o consumo das famílias ainda tem sustentado a economia, mesmo que com menor fôlego. Para a inflação, essa desaceleração no emprego pode ajudar a controlar os preços, já que menos pessoas conseguindo emprego rapidamente reduz a pressão sobre os salários.”
Eyng acrescenta que os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram um “misto de notícias ruins e positivas”. Do lado negativo, o resultado de fevereiro indica que o desemprego está aumentando. “Mas a parte positiva é para a política monetária, uma vez que o dado sinaliza para o BC que a atividade está enfraquecendo, nós temos um mercado de trabalho menos aquecido e com isso menos consumo por bens e serviços reduzindo uma potencial inflação.”