“Mercado de capitais é chave da transição verde”, diz Carlos Takahashi
Em entrevista ao VEJA+Verde diretor da Anbima explica como investir em fundos verdes e no futuro mercado regulado de carbono
Poucos anos atrás, a sigla ESG (“ambiental, social e governança”, em inglês) era vista como nicho; hoje ela reorienta a oferta de produtos financeiros, da prateleira de fundos às emissões de debêntures e letras de crédito CRIs/CRAs. Em entrevista ao programa VEJA+Verde, Carlos Takahashi, diretor da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), diz que o investidor encontra duas grandes famílias de fundos: 1) Fundos de impacto, cujo objetivo explícito é gerar benefício ambiental ou social; 2) Fundos que integram critérios ESG, avaliando riscos de sustentabilidade junto aos indicadores tradicionais de retorno.
A Anbima mapeia e classifica essas carteiras em seu Código de Autorregulação—passo essencial para blindar o mercado contra o greenwashing (ativos que se apresentam como sustentáveis, mas não são) e dar transparência aos investidores. Em paralelo, a quarta edição da pesquisa de sustentabilidade da associação indica crescimento constante dos recursos em produtos ESG, sem as oscilações observadas na Europa e nos Estados Unidos.
Para além dos fundos, as empresas vêm adotando emissões rotuladas para financiar projetos de energia limpa, saneamento e infraestrutura. Bancos de desenvolvimento — caso do BNDES — oferecem linhas de longo prazo para pequenas e médias empresas que tenham metas ambientais comprováveis, ampliando o alcance da agenda para fora dos grandes centros.
O capítulo mais aguardado, porém, é a implementação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões. O marco legal recém-aprovado transformou o crédito de carbono em valor mobiliário, permitindo que seja negociado nas mesmas plataformas onde se compram ações, o que deve multiplicar liquidez e atrair o investidor de varejo. “Será possível comprar crédito de carbono como quem compra uma ação”, projeta Takahashi.
A nova dinâmica também pressiona a governança corporativa: companhias listadas terão de divulgar relatórios de sustentabilidade padronizados já em 2026 (voluntário) e 2027 (obrigatório), conectando performance financeira às métricas climáticas. Isso reverbera em toda a cadeia de fornecedores, induzindo práticas mais responsáveis mesmo em setores historicamente distantes da pauta ambiental.
Para acelerar o debate, a Anbima uniu forças com Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e CNSeg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização) e levará cases de financiamento climático à COP 30, a conferência do clima da ONU, em Belém. “Os recursos existem; falta canalizá-los com integridade e padronização”, conclui Takahashi, reforçando que o mercado de capitais não é coadjuvante, mas motor da transição verde.
O VEJA+Verde, conduzido pelo editor Diogo Schelp, traz empresários, personalidades, gestores públicos e especialistas para apresentar suas visões e soluções sobre um dos maiores desafios para a sobrevivência da humanidade: conciliar desenvolvimento econômico e social com preservação do meio ambiente.
Em sua primeira temporada, o VEJA+Verde tem como principal mote as discussões que serão levadas por governos, empresas e organizações ambientais para a COP30.
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