Melhora no cenário faz governo subir a projeção do PIB para 2,5%
Ministério da Fazenda, gerido por Fernando Haddad, reivindica a si próprio bom desempenho que levou à melhoria na projeção do déficit primário para o ano
O Ministério da Fazenda revisou a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 de 1,9% para 2,5%. O ajuste nas expectativas se deu graças ao resultado do PIB no primeiro trimestre, período em que o setor agropecuário deslanchou. Esse setor, inclusive, viu sua projeção de crescimento ser expandida de 11% para 13,2%, em linha com o mercado. No relatório divulgado pela Secretaria de Política Econômica (SPE) da Fazenda nesta quarta-feira, 19, é citada ainda a probabilidade de queda nos juros como fator a impulsionar a economia do país no segundo semestre.
A revisão do PIB, entre 2,5% e 3%, já havia sido adiantada por Guilherme Mello, titular da SPE nas últimas semanas. Para justificar o aumento da estimativa, além do setor agropecuário, há otimismo por parte da Fazenda na recuperação da Indústria, que teve sua projeção revista de um avanço de 0,5% para 0,8%. A projeção para Serviços, por sua vez, passou de um avanço de 1,3% para 1,7%. Em relação a 2024, o governo foi mais cauteloso: manteve-se o crescimento esperado de 2,3% para o próximo ano, abaixo da estimativa deste ano. “Frente a 2023, o cenário é de leve desaceleração, motivada pela baixa contribuição esperada para o setor externo e pelo menor crescimento projetado para o setor agropecuário”, aponta o relatório da pasta comandada por Fernando Haddad. “Apesar da desaceleração, o crescimento será mais homogêneo entre setores e baseado na recuperação da absorção doméstica.”
Fora isso, o governo reduziu a projeção para a inflação deste ano, que caiu de 5,58% para 4,85%. Para 2o24, é esperada nova alta acima do centro da meta: a projeção do IPCA para o próximo ano, agora, é de 3,3%. Segundo a Fazenda, os ajustes nesse campo se deram graças às “surpresas positivas” com os indicadores de abril e maio.
Em coletiva de imprensa, Mello aproveitou para fazer coro a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a redução dos juros, hoje no patamar de 13,75% ao ano. “Isso [o cenário apresentado] cria todas as condições para um processo de redução sustentada da taxa de juros, trazendo a taxa de juros para algo mais próximo não só do padrão internacional, como no sentido do que o próprio Banco Central assume como sendo a taxa de juros neutra”, afirmou ele. “O impacto da política monetária tem sido sentido do ponto de vista do gasto com juros, do ponto de vista da arrecadação, do ponto de vista do mercado de trabalho, do ponto de vista do mercado de crédito, do ponto de vista setorial e, obviamente, do ponto de vista social quando você junta todos esses sistemas.”
A pasta menciona ainda o reajuste autorizado para plano de saúde levemente inferior ao projetado; a redução nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha nas refinarias; e revisões nas tarifas de energia elétrica e ônibus urbano como fatores a acomodar as expectativas para a inflação de 2023.
Também houve melhoria nas expectativas para o déficit primário. Na coleta de junho, a projeção para o déficit primário do país em 2023 foi de 101,75 bilhões de reais, ante 125,99 bilhões de reais em janeiro. A pasta reivindica a si a melhora no cenário fiscal. “A melhora nas expectativas sugere que as instituições de mercado estão considerando as medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda em suas projeções fiscais”, diz o texto.
Riscos
A Fazenda aponta o cenário de aperto monetário nos Estados Unidos e na União Europeia como algo a se observar com atenção. Além disso, também é citado como fator preocupante o ritmo de recuperação da economia chinesa, com o fraco desempenho da indústria de manufatura do país asiático e de seu setor de construção. Há otimismo, no entanto, quando se trata dos riscos de uma crise sistêmica no mercado financeiro: “Com a contenção dos problemas de liquidez por meio de linhas de empréstimo emergenciais, os riscos de crise no setor bancário se dissiparam nos últimos meses. Em paralelo, os núcleos de inflação e dados do mercado de trabalho tanto nos Estados Unidos como na zona do euro seguiram mostrando certa resiliência”, aponta o relatório.