Mais empresas correm para renegociar dívidas com piora do cenário de 2025
Empresas com dívidas vencidas ou perto de vencer buscam credores para renegociar, antes que cenário econômico piore

Com a piora do cenário econômico para 2025, aumentou o número de empresas interessadas em renegociar dívidas junto a bancos e fornecedores. O objetivo é se antecipar às nuvens negras no horizonte. A primeira é a alta de 2 pontos percentuais da taxa Selic, prometida pelo Banco Central para as duas primeiras reuniões do ano. Se a promessa for cumprida, os juros chegarão a março em 14,25% ao ano.
A outra é a própria freada da economia. Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, o mercado já projeta um crescimento do produto interno bruto de 2% em 2025, ante a estimativa de 3,42% neste ano. Por último, o dólar deve encerrar o ano que vem em 5,85 reais – menos, é verdade, que os 6 reais desta semana, mas o bastante para onerar negócios com dívidas atreladas à moeda americana.
Com isso, empresas sem condições de honrar dívidas vencidas ou prestes a vencer correm para fechar acordos com os credores. “A demanda de empresas interessadas cresceu 50% neste mês em relação ao fim do ano passado”, afirma Eduardo Scarpellini, um dos fundadores da EXM Partners, assessoria especializada na reestruturação de dívidas e recuperações judiciais, e que atuou em casos como a falência da ITA, a companhia aérea do Grupo Itapemirim, no ano passado. “Os empresários me dizem que não querem começar 2025 sem reestruturar as operações e ganhar fôlego”.
Segundo Scarpellini, o principal problema enfrentado é o custo das dívidas, que cresce desde a pandemia de coronavírus, em 2020, e acelerou com o aumento recente dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para conter a inflação que deve estourar o teto da meta de 4,5% neste ano. “Com uma Selic de 14%, estamos falando de um custo financeiro total de, no mínimo, 20% ao ano para captar novos recursos”, diz. “As empresas terão bastante dificuldade para remunerar essas dívidas”.
Para o especialista, a primeira saída será alongar as dívidas, já que a taxa Selic servirá como um piso para renegociar os juros pagos pelas empresas. A boa notícia é que os bancos estão abertos a conversar, de acordo com Scarpellini. Não se trata de espírito natalino. Escaldadas por crises anteriores, as instituições financeiras sabem que o melhor é evitar que seus clientes cheguem ao ponto de pedir recuperação judicial (RJ) ou, no limite, fechar as portas. Por lei, toda dívida de empresas em RJ deve ser lançada como perda no balanço dos bancos e provisionado.
Outra opção é a busca de recursos por outros meios, como os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs). A própria EXM Partners conta com um braço financeiro, a Alumni Investimentos, responsável por securitizar recebíveis de empresas e repassá-los para fundos de investimentos.
Scarpellini acrescenta que essas operações já somam cerca de 400 milhões de reais por mês, mas a cifra deve crescer bastante no ano que vem, com a necessidade dos empreendedores de reestruturar dívidas antigas e captar dinheiro novo. “Projetamos alcançar de 700 milhões a 800 milhões de reais por mês com nossas operações”, estima.
A deterioração do ambiente de negócios é captado por todos os lados. A Serasa Experian, por exemplo, informou nesta quinta-feira, 19, que as solicitações de recuperação judicial somaram 2.085 no acumulado do ano até novembro. O número indica um salto de 60% sobre o mesmo período de 2023. Os pedidos de RJ concedidos pela Justiça totalizaram 1.753 – uma disparada de 70% na mesma comparação. Para Scarpellini, o ideal é que a empresa não chegue a esse ponto para pedir ajuda. “Não é preciso tomar medidas drásticas”, diz. “O melhor é se antecipar, sentar com os credores e renegociar os compromissos. Ninguém quer puxar a corda no pescoço de um empreendedor”.