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Serviços, maior setor da economia, ensaia retomada

Ainda abaixo do índice pré-pandemia, setor de serviços avança no terceiro trimestre, impulsionado por comércio e transporte de cargas

Por Felipe Mendes Atualizado em 12 mar 2021, 00h04 - Publicado em 3 dez 2020, 14h08

A letargia que tomou conta do setor de serviços no segundo trimestre deste ano parece coisa do passado. No terceiro trimestre, o arrefecimento do contágio pelo novo coronavírus e as medidas de contingência adotadas  fizeram com que esse mercado avançasse 6,3% em relação ao segundo trimestre do ano, quando registrara déficit de 5,9%. Apesar do crescimento significativo, o volume ainda é inferior ao alcançado pelo Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no período (7,7%). No acumulado do ano, o setor de serviços apresenta queda de 5,3%, o que suscita que a retomada ainda é lenta perante os demais segmentos.

Setor de maior peso na economia brasileira, os serviços, sob a ótica adotada pelo IBGE, é um mundo à parte. As atividades são completamente destoantes umas das outras. O bom é que, no terceiro trimestre, todas avançaram frente ao período anterior. O segmento de “comércio“, por exemplo, havia tido uma queda acachapante de 13% no segundo trimestre, mas cresceu 15,9% de julho a setembro; já o mercado de “transporte, armazenagem e correio” avançou 12,5% frente ao trimestre anterior, na esteira do comércio eletrônico; o item “atividades imobiliárias” cresceu 1,1% no período; e “atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados” obteve alta de 1,5%.

Nota-se que as atividades mais impactadas pela pandemia de Covid-19 foram as que sustentaram o avanço no período. Com o declínio no número de casos da enfermidade de julho a setembro, o brasileiro ganhou as ruas e foi às compras, o que fortaleceu o avanço dos segmentos de “comércio” e “transporte, armazenagem e correio”. No período de passagem, o segundo trimestre, esses mercados sucumbiram diante das medidas de isolamento social e da consequente diminuição na circulação de pedestres nas ruas. Para o quarto trimestre, no entanto, uma dúvida de economistas e especialistas de mercado é se o repique do vírus, o aumento das medidas de contenção por parte de alguns estados e a redução do valor do auxílio emergencial pressionarão essa retomada do setor.

 

Os números ruins de importação do país, queda de 9,6% em relação ao trimestre anterior e de 25% frente ao terceiro trimestre de 2019, denotam uma preocupação para a retomada do setor de serviços. Há queda na oferta e na demanda e isso faz com que a recuperação seja vagarosa. “Os serviços que atendem às famílias tendem a ter um desempenho um pouco mais fraco, porque elas continuam receosas para o consumo fora do lar”, analisa Fabio Bentes, economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “A recuperação para esse setor continuará lenta, diferentemente da indústria, que já conseguiu reaver seu índice pré-pandemia, e da agropecuária, para quem essa crise foi só um ‘resfriado’ mesmo. Em serviços, se o mercado de comércio já alcançou o patamar anterior à pandemia, o turismo está com um tombo muito grande, com receita inferior à metade do que se tinha no início do ano.”

Serviços ligados a áreas como beleza, educação, entretenimento, saúde e turismo devem continuar sofrendo os efeitos da pandemia. “Hoje, o mercado de serviços educacionais está passando por dificuldades, com uma queda acima de 30% no faturamento. Há muita incerteza para 2021”, diz Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP Partners. “Os hospitais que têm demanda de operações mais complexas e de nicho sofreram bastante com a Covid-19. Mas, por outro lado, os laboratórios tiveram muita demanda. Nunca fizeram tanto exame na vida quanto estão fazendo agora”, complementa. Ele destaca, como fator positivo, o mercado de transporte de cargas. “Enquanto o transporte de passageiros está mal, o transporte de cargas, que é um serviço importante na matriz econômica brasileira, vai bem. Nós tínhamos uma visão de que haveria uma redução de 5% a 10% de empresas nesse mercado, mas tivemos de mudar esse olhar, porque a recuperação está sendo muito forte”.

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Para Alexandre Manoel, ex-secretário do Ministério da Economia e economista do Ipea, o setor deve manter a recuperação, mas ainda de forma lenta. “Eu acho natural que esse setor deslanche com o tempo. A velocidade dessa retomada, no entanto, está muito dependente do anúncio de uma vacina. Mas, ainda assim, esse setor deve surpreender nos próximos trimestres, porque foi o mais afetado pela pandemia”, afirma. Ele destaca ainda a importância de se avançar as reformas estruturantes, sobretudo a tributária, para auxiliar esse movimento de recuperação. “O cenário de recuperação depende do que vai acontecer com a consolidação fiscal e com a retomada das reformas. Precisa ter uma reforma tributária para impulsionar os setores da economia”.

Principal economia do país, o estado de São Paulo decidiu adotar medidas mais rígidas para o mês de dezembro, o que deve impactar o setor de serviços no desempenho do quarto trimestre. Com estabelecimentos podendo abrir somente 10 horas ao dia e, no máximo, até às 22h, os economistas apontam que poderá haver uma contração na recuperação desse setor. “Isso impacta a retomada do setor de serviços ao patamar que ele vinha crescendo antes da pandemia”, diz Manoel. “Essas medidas de restrição tendem a prejudicar esse ritmo do quarto trimestre, até porque o setor de serviços ainda depende muito do consumo presencial. Essa restrição de horário, especialmente na área de lazer, tende a deixar a recuperação ainda mais lenta”, afirma Bentes, da CNC.

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