Lixo, geradores e cheiro de diesel, o lado B nada sustentável da COP30
Evento que discute redução de emissão de gases que aquecem o planeta é movida a combustíveis que fazem os termômetros subirem
Do lado de dentro da Blue Zone, o pavilhão destinado às autoridades na COP30, as principais lideranças mundiais debatem a emergência climática no planeta. Seguindo o dress code desse tipo de evento, homens engravatados e mulheres vestidas com roupas pouco refrescantes só não sufocam por conta do ar condicionado, ligado em máxima potência. Entre discussões sobre a disparada dos termômetros no planeta, eles nem se dão conta de que o conforto térmico está sendo garantido graças à emissão de gases de efeito estufa que tanto se esforçam para reduzir.
Os 80 000 Kilovate-Amperes (medida utilizada para medir a potência elétrica) necessários para a realização da Conferência do Clima da ONU são fornecidos por 160 geradores movidos a diesel, que jogam toneladas de carbono pelo escapamento. Nesta terça-feira, a reportagem de VEJA circulou pela área onde as máquinas foram instaladas e se deparou com mais de 30 praças, com até 20 unidades cada.
Muitos dos equipamentos estavam ligados diretamente aos aparelhos de ar condicionado. Funcionários contaram que alguns jamais são desligados. Não se sabe, por ora, qual o consumo diário de combustível, nem a quantidade de carbono que será despejada no coração da Amazônia, uma das áreas mais sensíveis ao aquecimento global. Ironicamente, a decisão de trazer a COP para a floresta tropical teve por objetivo sensibilizar as lideranças mundiais para a importância da preservação do bioma.
Inviabilidade técnica e logística
O edital de realização da COP30 previa a utilização de combustível 100% renovável, conhecido como B100, mas segundo a Secretaria Especial da COP, órgão diretamente ligado à Casa Civil, não pode ser utilizado “por motivos de viabilidade logística, segurança operacional e ampla disponibilidade na Amazônia, além da compatibilidade com todos os equipamentos contratados”.
O combustível utilizado, então, passou a ser o Diesel S10, o mesmo vendido nos postos de gasolina, em uma vresão modificada pela Petrobrás que ainda não chegou ao consumidor final. Ele é composto por 75% de diesel mineral, 15% de biodiesel e 10% de matéria prima renovável processada em Refinarias, uma combinação que seria capaz de assegurar menores teores de enxofre, melhor desempenho energético e redução significativa de emissões. Segundo a Secop, a mistura garante que “os geradores atendam aos critérios ambientais da Agência Nacional do Petróleo e às metas de sustentabilidade do evento”.
Nos locais inspecionados por VEJA, havia poças de água misturada com óleo. No media center, espaço destinado aos jornalistas, o cheiro de diesel se tornou constante após as costumeiras chuvas de Belém que tem caído todo fim de tarde.
Já nos bastidores, ambientalistas com quem a reportagem teve contato, consideraram a situação como sendo “surreal”, “esdrúxula” e “vergonhosa”. Principalmente porque o Brasil sediou outros megaeventos, como olimpíada do Rio e Copa do mundo, garantindo o fornecimento de energia 90% limpa, advinda do Operador Nacional do Sistema.
Desde 2011, o Pará conta com a usina de Belo Monte, a terceira maior hidrelétrica do mundo, construída em Altamira. Técnicos diretamente envolvidos na operação da COP30 ouvidos por VEJA, no entanto, disseram que criar uma linha de fornecimento exclusiva para uma área provisória seria economicamente inviável porque exigiria a construção de equipamentos para garantir a integração ao sistema nacional. “No Rio, esse investimento ficou como legado para a cidade”, disse um deles.
Lixo
A reportagem também se deparou com diversas cenas de manejo inadequado de resíduos. Montes de madeira se acumulam nos arredores da conferência. A separação de recicláveis acontece de maneira manual e nem todos os funcionários utilizam equipamentos de proteção individual.
Para evitar alagamentos com as constantes chuvas, uma calha de drenagem foi construída. Na boca de lobo que se conecta à rede pluvial, garrafas pet, pedaços de madeiras, embalagens descartáveis e panos obstruíam a passagem da água, após a tempestade da terça-feira, 11.
O cenário onde a cena se desenrolou não poderia ser mais paradoxal: ao fundo, cercado por uma tela de arame, está um pedaço intocado da Amazônia.
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