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Juros altos renovam o protagonismo da renda fixa para 2025

A expectativa de que a taxa Selic permaneça elevada ao longo do próximo ano retoma o cenário que ocorreu durante 2024

Por Tássia Kastner
20 dez 2024, 06h00

“O algoz da diversificação dos investimentos em 2024.” Foi assim que a XP definiu, em relatório enviado a clientes, a renda fixa pós-fixada. Não é para menos. Pelas projeções da corretora, um investidor que tivesse começado o ano aplicando 10 000 reais no Tesouro Selic teria chegado em dezembro com quase 11 000 reais. Se o mesmo montante estivesse em um ETF (fundo listado que replica um índice) ligado ao Ibovespa, esse investidor teria algo como 9 400 reais — menos do que o valor inicial. É uma disputa desleal: enquanto os ativos de maior risco oscilam ao sabor da oferta e demanda dos investidores, a renda fixa pós-fixada tem baixíssima volatilidade. Some-se a isso a leitura de que o juro deverá continuar subindo em 2025, com previsões pessimistas de que possa chegar a até 15%, e a conclusão é óbvia: o próximo ano também será dos títulos pós-fixados, como é o caso do Tesouro Selic e dos títulos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA+.

O avanço dos juros revela um lado sombrio da situação econômica do Brasil. Analistas trabalham com a perspectiva de que a inflação ficará acima de 4% ao ano, muito próxima ou até acima do teto da meta de 4,5%. O jeito, então, é elevar a Selic para esfriar a atividade econômica e conter a alta de preços. Como se não bastasse, há a chegada de Gabriel Galípolo ao comando do Banco Central a partir de janeiro. Até aqui, os investidores deram um voto de confiança, mas ainda mantêm um pé atrás, de olho em uma possível pressão do governo Lula por uma política monetária mais frouxa — o que tornaria o ambiente de juros ainda mais incerto. “Tudo vai depender do que Galípolo fizer nas primeiras reuniões do Banco Central”, afirma João Piccioni, gestor e diretor de investimentos da Empiricus Gestão.

É de olho em uma inflação ainda firme que interlocutores veem, dentro da renda fixa, um momento favorável para os títulos Tesouro IPCA+, conforme afirma Denis Ferrari, gestor de renda fixa da Kinea Investimentos. Pegue o exemplo do título com vencimento em 2035: 10 000 reais aplicados no começo de dezembro, se mantidos até o vencimento, virariam algo próximo a 30 000 reais, de acordo com simulações do Tesouro Direto. Isso porque esse título está rendendo quase 7% ao ano acima da inflação. No entanto, vale destacar que uma rentabilidade tão atraente como essa só está garantida se o papel for mantido na carteira até o seu prazo final. Se for vendido antes disso, o investidor receberá o que o mercado estiver pagando pelo título. Além disso, diferentemente do Tesouro Selic, essa categoria de produto está sujeita a mais volatilidade, a qual cresce conforme aumenta o prazo do papel.

O cenário que se vê para os títulos públicos não necessariamente se repete para o crédito privado, classe que os gestores encaram com mais ceticismo. Em 2024, houve uma enxurrada de emissões de títulos de dívida corporativa. Só em debêntures incentivadas (com isenção de imposto de renda para a pessoa física), foram captados quase 112 bilhões de reais de janeiro a outubro, 65% a mais do que em igual período de 2023. Nas demais debêntures tradicionais, a captação foi de 381 bilhões de reais, configurando o melhor ano da série histórica, de acordo com dados da Anbima, a associação que representa o mercado de capitais.

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Com tamanha demanda, a rentabilidade oferecida por um investimento mais arriscado se tornou muito próxima daquela propiciada por títulos públicos. Os gestores de fundos passaram, então, a reduzir a compra dos papéis para não afetar tanto a sua performance. “A qualidade das empresas segue boa, mas a relação entre risco e retorno piorou muito”, afirma Ferrari. Com ou sem ressalvas, a verdade é uma só: a renda fixa seguirá reinando nas carteiras dos investidores.

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Publicado em VEJA, dezembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 9

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