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Inflação desacelera após quatro meses por conta de luz mais barata

Com mudança da bandeira tarifária e queda em passagens aéras, índice ficou em 0,25% em janeiro, diluindo alta de combustíveis e alimentos

Por Larissa Quintino Atualizado em 9 fev 2021, 17h02 - Publicado em 9 fev 2021, 09h37

Após quatro meses de altas consecutivas, a inflação desacelerou em janeiro. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,25% no período, sendo o menor índice desde agosto, segundo dados divulgados nesta terça-feira, 9, pelo IBGE. A desaceleração na alta dos preços está diretamente ligada à queda no valor da energia elétrica, que teve bandeira amarela aplicada na conta de luz — diminuição em relação a dezembro, quando a bandeira tarifária era vermelha. Os alimentos, que se tornaram os grandes vilões da inflação a partir de meados do ano passado continuam a subir, mas em uma intensidade menor. 

Nos últimos 12 meses, o indicador acumula alta de 4,56%. A meta prevista para 2021 é de 3,75% ao ano, com margem de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. A diferença entre o resultado da inflação e a percepção do consumidor está relacionado à cesta de produtos medida pelo IPCA. O índice se refere às famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos (44.400 reais mensais) e, a alta dos alimentos e combustíveis acaba pressionando mais as famílias mais pobres. No caso da cesta atual, que foi atualizada em 2020, Transportes tem o maior peso. Por isso, a queda acentuada no preço das passagens aéras, por exemplo, dilui o impacto do aumento dos combustíveis. Além disso, a grande variação da energia elétrica, que tem grande peso no indicador, também atuou para arrefecer a alta do indicador de janeiro.

“Houve uma queda de 5,60% no item energia elétrica, que foi, individualmente, o maior impacto negativo no índice do mês. Após a vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 2 em dezembro, passou a vigorar em janeiro a bandeira amarela. Assim, em vez do acréscimo de 6,243 reais por cada 100 quilowatts-hora, o consumidor passou a pagar um adicional bem menor, de 1,343 reais. O que resultou em uma deflação no grupo Habitação, do qual esse item faz parte, mesmo com a alta em outros componentes, como o gás encanado e a taxa de água e esgoto”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Outro grupo que registrou deflação em janeiro foi o de Vestuário (-0,07%), após alta de 0,59% em dezembro, quando as vendas do setor se aquecem para as festas de final de ano. Os demais sete grupos, no entanto, registraram elevação de preços, com destaque para Alimentação e bebidas (1,02%), que apresentou a maior variação e o maior impacto positivo no índice do mês. Mas a alta foi menos intensa que a de dezembro (1,74%).

Os itens que ficaram mais caros foram o de combustíveis, com alta de 2,13% no mês, variação superior em dezembro, com destaque para a gasolina (2,17%) e o óleo diesel (2,60%). O movimento dos combustíveis tem influência clara do real desvalorizado e alta nas commodities. A partir do último trimestre do ano passado, o preço do barril voltou a subir e, como o real passou a valer menos em relação ao dólar, o peso no valor do combustível é ainda maior. Na segunda-feira, o preço do barril tipo Brent, referência para a Petrobras, superou os 60 dólares, maior marca em um ano. O peso não foi tão grande na inflação pois ficou diluído na cesta da inflação. O grupo de transportes, que tem o maior peso no IPCA, desacelerou frente ao mês anterior (1,36%), principalmente devido à queda no preço das passagens aéreas (-19,93%), cujos preços haviam subido 28,05% em dezembro.  

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Alimentos e bebidas continuam a puxar os preços para cima, mas com menos força.  “Os alimentos para consumo no domicílio, que haviam subido 2,12% no mês anterior, variaram 1,06% em janeiro. As frutas subiram menos  e as carnes caíram de preço, assim como o leite longa vida e o óleo de soja”, destaca Kislanov.

A mudança no padrão de consumo trazido pela pandemia, que alimentos para consumo no lar pesaram mais e o consumo de outros itens, sejam produtos e serviços, deixaram de ser prioritários, fez com que toda a população sentisse os impactos da alta dos preços, mas a influência principal é sobre famílias mais pobres.

Apontada como transitória pelo Banco Central e pelo governo, a pressão inflacionária pode voltar a influenciar as decisões de política monetária neste ano, apesar do resultado melhor de janeiro. Isso acontece porque o real continua desvalorizado e, além do petróleo, outras commodities como a soja estão em ciclo de alta, e podem continuar a pressionar os alimentos. Apontado como um dos ‘vilões’ para a aceleração no ano passado, o auxílio emergencial deve ser reeditado, voltando a impulsionar o consumo e a alta nos preços.

Neste ano, a pressão inflacionária também pode vir de preços administrados como planos de saúde — que subiram 0,66% em janeiro após ter o reajuste congelado em 2020 — gastos com educação e no próprio setor de serviços, deprimido em 2020.

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