‘Imagine’ Maduro pedindo paz a Trump – e os mercados de olho em petróleo e Chile
Analista vê impacto em petróleo, câmbio e apetite por risco na América Latina
Foi um fim de semana com trilha sonora improvável na geopolítica. Em Miami, no Aeroporto Internacional de Palm Beach, Donald Trump declarou que “os venezuelanos querem conversar” e que está disposto a negociar. Em Caracas, Nicolás Maduro respondeu em tom de serenata política: repetiu a palavra “paz” em discurso dirigido aos Estados Unidos e, para completar o quadro, emendou Imagine, de John Lennon – hino pacifista em voz de um líder acusado de sufocar opositores e promover eleições contestadas pela maior parte das democracias ocidentais.
Por trás do dueto improvável Trump–Maduro, o recado relevante para os mercados vem menos da melodia e mais do porta-aviões americano deslocado para a região. Segundo Bruno Perrin, economista e sócio-fundador da Fórum Investimentos, ouvido no programa Mercado, da VEJA, a combinação de retórica mais suave com demonstração de força militar mantém as tensões “no discurso”, mas deixa o petróleo em modo sensível. A Venezuela continua sendo um exportador importante, e qualquer ruído mais forte nas negociações pode mexer com o preço do barril, o câmbio e, por tabela, a balança comercial de países exportadores de commodities como o Brasil.
Enquanto Maduro pede “peace” , o Chile entra em campanha com tons bem menos harmônicos. O primeiro turno das eleições levou ao segundo round dois projetos antagônicos: de um lado, a comunista Jannette Jara, apoiada pelo presidente Gabriel Boric; de outro, José Antonio Kast, que se define como ultradireita e fez da bandeira de combate ao crime organizado e ao narcotráfico o eixo de sua narrativa. O resultado apertado, com Kast poucos pontos atrás da candidata governista e já recebendo apoios de nomes de centro-direita, torna o segundo turno uma disputa que extrapola as fronteiras chilenas.
Perrin lembra que, se Kast confirmar o favoritismo, o Chile se somará à lista de países da região que migraram para a direita em resposta a temas como segurança pública, inflação e desalento econômico. Para o mercado financeiro, essa possível virada é lida como sinal de maior probabilidade de políticas fiscais mais rígidas, contenção de gastos e reformas pró-investidor – fatores que tendem a reduzir juros de longo prazo e melhorar a percepção de risco sobre ativos chilenos e, por extensão, sobre a América do Sul.
Entre um “imagine all the people” em Caracas e promessas de “mão dura” em Santiago, investidores seguem tentando decifrar o mapa latino-americano num momento em que Trump também apoia, no Congresso americano, um projeto para sancionar países que façam negócios com Rússia – medida que pode respingar sobre parceiros de Teerã , como o Brasil, grande exportador de alimentos para o Irã. Se a letra de Lennon sonhava com um mundo sem fronteiras e conflitos, a realidade dos mercados segue bem menos lírica: petróleo, câmbio, comércio exterior e eleições continuam ditando o ritmo – com Washington, Caracas e Santiago tocando, cada qual à sua maneira, a própria versão dessa mesma música.
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