Ibovespa cai e dólar vai à máxima histórica com pacote fiscal no foco
Queda do índice e alta da moeda americana representam ceticismo do mercado com medidas que serão anunciadas
Não se fala em outra coisa. O pacote fiscal, que será anunciado pelo governo, vem trazendo oscilações fortes tanto para a bolsa, quanto para os mercados de câmbio e juros. E hoje não foi diferente. De olho no pronunciamento que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará a partir das 20h30 em cadeia nacional sobre o pacote, os investidores decidiram embutir mais uma dose de ceticismo no preços dos ativos.
Na tarde desta quarta-feira (27), o Ibovespa cedeu 1,73%, aos 127.668,61 pontos. Já no mercado de câmbio, o dólar bateu a máxima histórica — antes registrada na pandemia — e foi à marca de 5,91 reais.
No pano de fundo está o esperado pacote fiscal do governo. Na avaliação de analistas, já houve grande desgaste em relação ao tema diante dos adiamentos do anúncio público das novas regras, que já haviam sido redigidas, conforme Haddad.
Agora, a maior preocupação dos investidores é em relação a um novo piso para isenção do imposto de renda, que deve subir a 5 mil reais. Isso representa uma renúncia fiscal que vai na contramão do que é desejado pelo mercado — e, portanto, gera dúvidas quanto à capacidade do governo de trazer outras medidas que compensem esse e outros gastos. Conforme já mostrou o Radar Econômico, o impacto para o orçamento seria de 70 bilhões de reais com a decisão sobre os salários.
A apresentação do texto em cadeia nacional hoje acontece após Haddad e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terem conversado, a portas fechadas, com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Embora haja grande esforço da equipe econômica de trazer a público o projeto, a votação só deve ocorrer em 2025, considerando a agenda do Congresso.
“Essa [isenção de imposto de renda até 5 mil reais] é uma promessa de campanha do Presidente da República que, se aprovada pelo Congresso, poderá passar a valer já em 2025”, afirma Helena Veronese economista-Chefe B.Side Investimentos. “Se de fato o anúncio acontecer, esta será uma vitória da ala política do governo, já que tudo indica que a equipe econômica era contra.”
Mas o nervosismo dos mercados não vem apenas do cenário local. No exterior, com promessas e ameaças de imposição de tarifas pelo presidente eleito nos Estados Unidos, Donald Trump, ativos de países considerados mais arriscados vêm sofrendo desgaste e deixando a carteira dos investidores globais, que preferem se refugiar em ativos de menor risco, como títulos da dívida americana.
O Brasil não está diretamente ligado ao grupo de países suscetíveis às possíveis tarifas impostas por Trump, caso da China, com quem o republicano já travou uma guerra comercial no seu último mandato. Mas o maior receio nessa frente está no fato de que, como uma economia emergente, o Brasil também saia prejudicado, como no caso de uma desaceleração na demanda externa por commodities.