Ibovespa cai de olho em EUA e juros no Brasil; dólar tem leve alta
Investidores especulam sobre o futuro da economia americana com Donald Trump, enquanto analisam cenário de juros lá fora e no Brasil

Os ativos brasileiros tiveram mais um dia fraco. De olho na chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e no nível de juros lá fora e no Brasil, o Ibovespa tem perdas de 1,31%, aos 119.570 pontos, enquanto o dólar comercial, que reduziu os ganhos durante a tarde, fechou com leve avanço de 0,10%, a 6,11 reais.
Entre os destaques do dia na bolsa de valores, as grandes ações vêm pressionando o desempenho do Ibovespa, caso setor bancário, da Petrobras e da Vale. No mercado de juros, a precificação de maior risco nos mercados também ficou marcada nos vértices de curto prazo, caso do contrato para janeiro de 2027, que foi a 15,33%.
No exterior, os investidores especulam sobre o futuro da economia americana, com incertezas em torno das políticas tarifárias de Trump, conforme promessas feitas durante sua campanha à Casa Branca. Guilherme Jung, economista da Alta Vista Research, destaca uma reportagem da rede americana CNN, que mostrou que Trump considera declarar uma emergência econômica nacional para justificar tarifas de importação mais agressivas, elevando a cautela nos mercados.
A isso se somam as crescentes certezas de uma política monetária mais apertada na maior economia do mundo, dado o efeito inflacionário das possíveis medidas de Trump e diante da atividade ainda aquecida, o que traz resiliência à inflação. Divulgada na tarde de hoje, a ata da última reunião do Federal Reserve, o banco central americano, mostra justamente que a autoridade deve adotar cortes mais graduais na taxa de juros do país daqui em diante.
“Acreditamos que a ata é consistente com uma pausa nos cortes de juros. Em nosso cenário, acreditamos que os cortes só voltarão no segundo semestre de 2025, com dois cortes de 0,25 [ponto percentual] nas reuniões de outubro e dezembro”, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
No âmbito doméstico, o tema que predomina nos mercados é a trajetória do juro básico, que deve chegar a 15% ao ano na previsão de diversas casas — o que diminui, em linhas gerais, a procura por ativos de risco, como o mercado de ações. Por trás da escalada da taxa Selic está o cenário externo, já que um juro mais alto nos Estados Unidos pode reforçar a saída de dólares, gerando uma contaminação para a inflação brasileira que pode obrigar o Banco Central a manter os juros ainda mais elevados por aqui.
Além disso, há o descontentamento dos investidores e agentes de mercado com as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo no ano passado, consideradas insuficientes para controlar o nível de gastos do país. Segundo a leitura dos economistas, um ajuste fiscal nos moldes como o que foi feito acaba reforçando a tese de que a inflação se fortalecerá, dado o aquecimento da atividade brasileira e a desancoragem das expectativas para a inflação. “O mercado permanece cauteloso, aguardando mais sinais sobre os rumos da economia global e das políticas monetárias nas principais economias do mundo”, afirma Jung, da Alta Vista.