Haddad defende acordo UE-Mercosul na França como chave contra protecionismo e para transição verde do Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cumpre agenda em Paris, na França, onde participa de uma conferência na Universidade Sciences Po

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o multilateralismo como uma ferramenta crucial não apenas para enfrentar desafios globais, mas também para fortalecer as vozes diplomáticas de países emergentes, como o Brasil, que enfrentam obstáculos cada vez mais complexos no cenário internacional. Em discurso durante uma conferência na Universidade Sciences Po, em Paris, Haddad afirmou que a cooperação entre nações é essencial para superar o crescente protecionismo e as novas barreiras comerciais que surgem contra as economias em desenvolvimento.
O acordo UE-Mercosul, que ficou travado por mais de duas décadas, foi finalmente assinado em dezembro do ano passado, em um contexto global marcado pelo protecionismo com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Contudo, o pacto ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia, dois dos principais órgãos decisórios do bloco, sendo a França um dos países mais resistentes à sua ratificação.
Do ponto de vista econômico, Haddad reconhece que o acordo, que busca eliminar barreiras tarifárias entre as duas regiões, pode não ser o impulsionador da industrialização que muitos esperavam no Mercosul. “Se perguntarmos a um diplomata brasileiro se o acordo representa um salto econômico significativo, a resposta seria negativa”, admitiu o ministro, durante sua conferência em Paris, no dia 31 de março. “Não há uma cláusula que promova esse efeito”, completou.
No entanto, Haddad destaca que o verdadeiro valor do acordo vai além da balança comercial. Para ele, o significado político do pacto é central. O Brasil, como maior economia do Mercosul, se vê em uma posição delicada no cenário global, onde a polarização entre Estados Unidos e China pressiona os países emergentes a escolherem um dos lados. Esse é um cenário que Haddad e o governo Lula buscam evitar. “A luta por um mundo multipolar, onde todos tenham a oportunidade de produzir e oferecer possibilidades, é o caminho certo a seguir”, afirmou o ministro.
A questão climática também surge como uma das principais razões para o avanço do acordo. “Estamos diante de uma emergência climática, isso é uma realidade inegável”, reiterou Haddad. A União Europeia, como líder global em sustentabilidade, exige compromissos ambientais rigorosos nas suas negociações, o que, para o Brasil, implica não apenas em garantir a proteção da Amazônia, mas também em promover uma transição econômica mais verde. Para um país que ainda depende fortemente da exportação de commodities agrícolas e minerais, essa é uma transição desafiadora, mas essencial.