Facebook restringe conteúdo jornalístico na Austrália em protesto a lei
Rede social entra na guerra para não pagar por conteúdo e restringe acesso de australianos a informações confiáveis
O Facebook entrou numa guerra com o setor de mídia na Austrália, que pode resvalar em todo o mundo. Desde ontem, quarta-feira, 17, a rede social está restringindo o compartilhamento e a visualização de conteúdo jornalístico local e internacional. Isso significa que, a partir de agora, qualquer australiano que queira se informar por meio de fontes jornalísticas seguras e confiáveis sobre a pandemia, a vacina contra a Covid-19, o golpe em Mianmar, incêndios na Austrália, o caos climático no Texas, ou qualquer outro assunto local ou mundial, não pode contar mais com o Facebook. Em outra mão, qualquer cidadão do mundo que queria se informar sobre a Austrália também não pode mais contar com o Facebook.
A batalha travada pela rede de Mark Zuckerberg é com o parlamento australiano que está legislando sobre como o Facebook e o Google devem pagar para compartilhar o conteúdo produzido pelas empresas de jornalismo. É uma tentativa de salvar o setor de mídia, que perdeu receita nos últimos anos por conta da mudança da publicidade no mundo, que migrou para as redes sociais e para o Google. Segundo o Facebook, a decisão de restringir a circulação de notícias foi tomada “com dor no coração” porque os legisladores não entenderam o relacionamento da rede com o setor de mídia.
“A pesquisa do Google está inextricavelmente ligada às notícias e os editores não fornecem voluntariamente seu conteúdo. Por outro lado, os editores optam por postar notícias no Facebook, pois isso lhes permite vender mais assinaturas, aumentar seu público e aumentar a receita de publicidade”, disse o Facebook em comunicado. O Google chegou a ameaçar de interromper seu serviço de busca em todo o país, mas acabou chegando a um acordo com o setor.
O embate do Facebook com empresas de jornalismo não é de hoje e não se restringe à Austrália. Em 2018, o jornal Folha de S.Paulo decidiu parar de atualizar sua página na rede. A decisão na época foi tomada porque o Facebook alterou de uma hora para outra seu algoritmo, tirando visibilidade das páginas de notícias e privilegiando publicação de usuários individuais. O editor-executivo da Folha, Roberto Dias, diz que a audiência do veículo não sentiu falta do Facebook. “A série do Google Analytics mostra que, mesmo se descontarmos os grandes picos sazonais de audiência desde então (eleições de 2018 e início da pandemia), temos hoje 13% mais de visitas do que quando publicávamos em nossa página no Facebook. Nesses três anos, desde que saímos do Facebook, batemos todos os nossos recordes de audiência e aceleramos o crescimento de nossa base de assinantes digitais”.
Mas o Facebook não está na batalha apenas com empresas de jornalismo. Recentemente, a empresa anunciou que vai começar a restringir conteúdo político nas redes e o processo deve começar pelo Brasil. Na última conferência de divulgação de resultados, Zuckerberg disse a analistas que o conteúdo político representa um percentual insignificante do que circula na sua rede e por isso acredita que haverá pouco impacto.
Em meio à disputa, o Google acabou fechando acordo com o grupo News Corp, do australiano Rupert Murdoch, dono de títulos como The Wall Street Journal e The Times.