Expectativa em alta
Embalado pelo otimismo com o novo governo, o principal índice de ações do país está prestes a atingir a inédita marca dos 100 000 pontos
A bolsa de valores brasileira está perto de alcançar uma marca histórica e inédita: os 100 000 pontos de seu principal índice de ações, o Ibovespa. A iminência do recorde tem dominado as manchetes do noticiário financeiro nos últimos dias e simboliza um otimismo crescente entre os investidores no país. Na segunda-feira 4, o índice fechou em 98 589 pontos, a apenas 1,4% do nível inédito, mas registrou uma queda acentuada na quarta-feira, ficando em 94 636 pontos. Há um consenso entre especialistas, no entanto, de que a marca dos seis dígitos é mera questão de tempo. Não fosse a tragédia de Brumadinho, que derrubou fortemente os papéis da mineradora Vale e voltou a derrubar o índice na quarta, o mercado já estaria comemorando.
O Ibovespa resulta do valor das ações das principais empresas negociadas no pregão. Quanto mais alto o índice, mais valorizadas são essas empresas. A euforia dos investidores está mais fundamentada em expectativas quanto ao futuro do que no crescimento real da economia brasileira. Uma pesquisa da XP Investimentos com gestores de recursos, economistas e consultores na última semana de janeiro dá a dimensão do que motiva os financistas: a aprovação da reforma da Previdência faria a bolsa alcançar 125 000 pontos no fim de 2019, enquanto o dólar recuaria para 3,30 reais. Caso a reforma emperre, o Ibovespa poderá despencar até dezembro para perto dos 75 000 pontos, e o dólar, pular para 4,20 reais. Na visão da XP, a bolsa é o melhor ativo para investimento neste ano, e isso se deve em larga escala ao fato de o novo governo estar levando a sério a agenda liberal, com reforma tributária e privatizações. O sucesso do governo pode induzir uma onda de revisões nas estimativas de lucros das empresas.
Chama atenção que o movimento de alta seja liderado pelos investidores brasileiros. Desde que as pesquisas começaram a apontar uma vitória de Bolsonaro nas eleições, em outubro de 2018, as vendas de ações por parte dos estrangeiros superaram as compras em 9,3 bilhões de reais. O lado bom é que, se a expectativa de reformas se confirmar, o capital internacional poderá voltar e dar um impulso extra ao mercado. Enquanto isso não acontece, fundos de investimento e de pensão, instituições financeiras e corretoras brasileiras estão levando o Ibovespa a recordes sucessivos com investimentos em ações de bancos, de estatais e de empresas que se beneficiam da retomada do consumo doméstico, como as redes varejistas. A valorização referente à Eletrobras foi de 44% em janeiro, e de 19% no caso do Bradesco. A expectativa, no entanto, é que, a partir de agora, as ações não se valorizem tão rapidamente se o governo não entregar resultados concretos. “Não há mais tantos gatilhos que podem impulsionar o Ibovespa a curto prazo”, diz Betina Roxo, analista da XP. Trata-se de um lembrete importante para o novo governo — e para os investidores.
Publicado em VEJA de 13 de fevereiro de 2019, edição nº 2621
Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br