“Existe espaço para queda rápida de juros”, diz economista sobre Copom
Pesquisador, Braúlio Borges destaca condições para ritmo acelerado de queda de juros e condições positivas para Banco Central a partir de 2024
O Comitê de Política Monetária (Copom) cortou em 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic. A decisão desta quarta-feira, 2, era amplamente aguardada pelo mercado financeiro, setor produtivo e pelo governo.
Iniciado o processo de redução da Selic, centro da briga entre o governo e o Banco Central, o novo campo de disputa de política monetária pode estar na meta de inflação, definida pelo Comitê Monetário Nacional (CMN), colegiado que reúnes os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e o presidente do BC Roberto Campos Neto. O economista Braúlio Borges, pesquisador associado da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ibre, defende que o grupo reveja a meta de inflação, definida para 3% até 2026. “Não acho que esse patamar seja viável para um país como Brasil”, afirma.
Em entrevista a VEJA, Borges afirma que há espaço para que a Selic chegue a 9% em meados do ano que vem — e não apenas no fim de 2024, como prevê o mercado — e que existe espaço para que essa queda seja ainda mais rápida.
O senhor é um defensor da revisão da meta de inflação do país. Esse será o novo campo de disputa do governo com o Banco Central? O CMN tomou sua decisão e optou por manter a meta em 3% até 2026. O colegiado, basicamente, só mudou a forma de apuração do índice, para horizonte contínuo. Na prática isso não muda muita coisa. Há muitos anos o BC já desenhava a política monetária olhando para 18 meses adiante. A discussão sobre a meta de inflação saiu de cena e só vai voltar em meados do ano que vem, na próxima reunião do conselho. Agora, uma meta tão baixa para um país como o Brasil é viável? Acho que não.
As condições para um corte mais forte se avolumaram. O que podemos esperar? Saindo de cena a incerteza sobre a meta de inflação nos anos seguintes e o quadro favorável de desinflação, a discussão não é mais se o Copom vai cortar a Selic e sim até onde chegará a taxa de juros. Hoje a discussão está muito centrada no primeiro passo do relaxamento monetário, mas tão importante quanto é antecipar onde a Selic vai chegar daqui um ano. E temos todas as condições para chegarmos em 9% até meados do ano que vem. Existe espaço para que essa queda seja ainda mais rápida. Podemos ver uma taxa de juros a 11% no final deste ano.
Quando vamos começar a ver os efeitos dessa decisão do Banco Central? Existe um conceito importante na política monetária que é a taxa de juros neutra, que não estimula nem desestimula a economia. Qual é ela hoje? Em termos reais, 4% ou 4,5% ao ano mais a inflação. Então estamos falando de uma Selic neutra em torno de 8% ou 8,5%. Enquanto a Selic permanecer acima disso, a política monetária continuará sendo desestimulava, contracionista, e não tem necessidade nessa conjuntura positiva de que a política monetária continue em terreno contracionista por mais um ano, um ano e meio. Por isso acho que a Selic poderia se aproximar do nível neutro.
Recém nomeado como diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo surge como principal nome para suceder Roberto Campos Neto na presidência, no fim de 2024. O que podemos esperar dele na função? Vai depender da postura prática. É natural que haja especulação sobre como será o novo perfil do presidente do Banco Central, mas a gente tem que levar em consideração todas as condições de contorno. É bem provável que a gente observe a taxa de juros caindo bastante nos Estados Unidos ao longo de 2024, 2025 e 2026, com o Federal Reserve (FED) terminando o processo de aperto da política monetária neste ano. Daqui em diante, os próximos passos devem ser de queda, na virada de 2023 para 2024, com a taxa de juros chegando perto de 3% em 2025. Quando isso começar a acontecer, a gente vai ver mais pressão de valorização na taxa de câmbio do Brasil. Isso vai facilitar muito o trabalho do Banco Central. Na prática, se as condições internacionais forem próximas disso, não vai ter muita dificuldade em cumprir a meta de inflação de 3% ou 3,5%. Em outra conjuntura, com choques de demanda e real se depreciando, poderíamos ver algum tipo de tentação de operar o sistema no limite.