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Fundadores da KaBuM! acusam Magalu de uso de informação privilegiada

Ações da varejista teriam operado em forte alta no dia seguinte ao "ok" da venda da Kabum!, enquanto operação estava sob sigilo

Por Pedro Gil Atualizado em 7 Maio 2024, 16h03 - Publicado em 29 jan 2024, 10h10

O imbróglio envolvendo a compra da KaBuM! pelo Magazine Luiza ganhou mais um capítulo. Os irmão Thiago e Leandro Ramos, fundadores da loja de eletrônicos, apresentaram na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) uma denúncia por suspeita de uso de informações privilegiada (insider trading) durante o curso da negociação entre as marcas, em 2021.

No dia 24 de maio daquele ano, uma segunda-feira, o volume de ações de ações do Magazine Luiza negociado na bolsa foi praticamente o dobro da média diária dos 30 dias anteriores, o que levou a um aumento de quase 8% no valor das ações da companhia somente naquele dia. Foram negociadas cerca de 43 milhões de ações, com um excedente que representa mais de 400 milhões de reais da média dos últimos dias.

Foi a segunda maior valorização no período, atrás apenas do Banco Inter, que tinha anunciado a celebração de um acordo por meio do qual a Stone aportaria 2,5 bilhões de reais no banco.

Vale destacar que, naquele mesmo dia, o Grupo Casas Bahia e a Americanas também foram bem negociadas, mas em volume menor, e valorizaram cerca de 5%. Não houve publicação de Fato Relevante, Comunicado ao Mercado ou algo parecido que justificasse a movimentação do setor.

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Os irmãos alegam que no fim de semana anterior, entre os dias 22 e 23 de maio, sinalizaram, por escrito, aos seus assessores financeiros do Itaú BBA que aceitariam vender a Kabum para o Magazine Luiza pelo valor de 3,5 bilhões de reais. “Você acham que o negócio pararia de pé do lado de lá? Caso não, quais os pontos mais sensíveis do lado deles?”, escreveu Leandro Ramos em um grupo de mensagens às 20h53 do dia 23 de maio. Às 21h39 do mesmo dia, ele voltou a mandar mensagem: “A proposta é 3,5 bi, mas vão pagar 2 bi. Desses 2, 1 eles pegam de volta em ágio. O restante temos que entregar em lucro”. “Eu também estaria ligando de 2 em 2 horas para fechar rs”, continuou.

Alguns minutos depois, Leandro Ramos voltou a escrever e disse que desmarcou todos os compromissos que tinha nos dois dias seguintes para assinar o acordo nas próximas horas. “Eu e meu irmão desmarcamos tudo o que tínhamos para amanhã e terça. Vamos ficar totalmente focados para assinar em 48 horas”, escreveu às 21h57. “Vamos fechar esse deal”, completou às 21h58. A proposta do Magazine Luiza foi formalizada três dias depois, em 27 de maio de 2021.

A celebração do contrato foi tornada pública apenas no dia 15 de julho daquele ano. Naquele dia, as ações da varejista foram negociadas a 24 reais. “Se realmente houve a prática de insider trading em 24 de maio, os infratores podem ter se beneficiado de uma valorização que alcançou até 30% (puderam comprar ações do Magazine Luiza por um preço que variou de 18,52 reais a 19,99 reais e puderam revender as ações pelo valor médio de 24,03 reais)”, diz a denúncia encaminhada para a CVM.

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A nova acusação dos ex-donos da KaBuM! foi tomada com surpresa na diretoria do Magazine Luiza, já que a valorização daquele dia seguiu em linha com o setor e os maiores beneficiados por uma eventual valorização dos papéis da companhia seriam os próprios irmãos Ramos, que receberam parte do negócio em ações.

Em julho, os irmãos Leandro e Thiago Ramos pediram abertura de arbitragem na Câmara de Comércio Brasil Canadá, alegando que a varejista não pagou os 3,5 bilhões de reais combinados por sua empresa. Eles receberam 1 bilhão de reais em dinheiro e receberiam o restante em 125 milhões de ações, mas o valor dos papéis sofreu forte desvalorização e o valor remanescente ficou abaixo dos 500 milhões de reais. Eles querem que o negócio seja desfeito ou que a varejista complete o valor acordado.

Eles também foram à Justiça contra Ubiratan dos Santos Machado, diretor do Itaú BBA e que coordenou a negociação entre KaBuM! e Magazine Luiza. Eles acusam Ubiratan de ter manipulado a venda em favor da varejista. Ubiratan seria cunhado e amigo pessoal de Fred Trajano.

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