Evasão recorde de engenheiros e infraestrutura de 1940 travam crescimento do país
Só um terço dos alunos de engenharia concluem o curso e só 15% continuam na área, de acordo com o Confea
As restrições de infraestrutura e de mão de obra estiveram entre os grandes gargalos à competitividade e ao crescimento do país destacados nesta segunda-feira, 18, pelos especialistas que participaram do VEJA Fórum Infraestrutura, que reuniu autoridades e empresários do setor em São Paulo nesta manhã.
Para dar uma ideia do tamanho do problema, Vinicius Marchese, presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), apresentou números que mostram não só a baixa oferta de engenheiros no Brasil, como a dificuldade persistente em se conseguir reter os que se formam na área. De acordo com Marchese, a evasão dos alunos de engenharia é a maior dentre todos os cursos de graduação do país e, dos que se formam, menos da metade continuam trabalhando na área.
“De cada 100 estudantes que ingressam nos cursos de engenharia, apenas 35 se formam, é a maior taxa de evasão de todos os cursos do país. A maioria dos estudantes desiste”, disse o presidente do Confea. “E, no final, só 15 dos ingressantes fazem o seu registros no Crea, ou seja, são esses 15% os que realmente atuam com engenharia. Grande parte acaba indo para o mercado financeiro. Então perdemos material humano que é essencial para executar todos os projetos que estamos anunciando aqui.”
De acordo com os dados da entidade, o Brasil está estagnado há décadas em uma proporção de 5 a 6 profissionais de engenharia para cada mil habitantes, enquanto em países desenvolvidos como o Japão e os Estados Unidos essa proporção chega a 25, e, mesmo em emergentes com populações enormes, caso da China e da Índia, é de 13 a 15 engenheiros por mil habitantes.
As limitações de infraestrutura também foram destaque na fala do diretor-superintendente da Autoridade Portuária do Porto de Santos, Anderson Pomini. “O nosso porto movimentou em 2024 180 milhões de toneladas, mas continua tendo apenas uma pista para escoar todos os produtos que chegam para o interior do país, que é a rodovia Anchieta”, disse Pomini.
“Ela foi projetada há 80 anos, quando o Porto de Santo movimentava só 4 milhões de toneladas. Hoje, com a mesma pista, são 180 milhões de toneladas. Não é à toa que Cubatão [cidade vizinha a Santos] fica congestionado, e todos que trabalham com exportação e importação em nosso país têm um custo tão alto.” Inaugurada em 1947, a Anchieta liga a baixada santista, no litoral sul do estado, á capital paulista.
O chamado custo-Brasil foi também destacado pelo diretor de relações institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Roberto Muniz. “Estamos falando de competitividade, e isso tem a ver com concorrer e disputar”, disse. “Para isso, é necessário diminuir os custos de transação em todos os estágios da cadeia, e em especial para a indústria, que tem cadeias longas.”