A economia argentina foi sacudida por uma polêmica envolvendo o presidente Javier Milei e uma criptomoeda que viu seu valor despencar drasticamente em questão de horas. A controvérsia gira em torno de um ativo digital chamado $Libra, uma memecoin que, após receber apoio de Milei em sua conta na rede social X, viu sua cotação disparar para quase 5 dólares. No entanto, esse momento de euforia rapidamente se transformou em crise, à medida que a moeda despencou para menos de 1 dólar, gerando perdas substanciais para investidores e levantando acusações de corrupção e manipulação de mercado.

A publicação de Milei, em que o presidente endossava a $Libra como um ativo promissor para quem desejava investir no futuro da Argentina, causou um frenesi imediato. A criptomoeda, até então pouco conhecida, experimentou uma valorização meteórica, alimentada pela credibilidade que um chefe de Estado pode trazer a projetos financeiros. A ascensão abrupta, no entanto, foi curta. Em poucas horas, a $Libra começou a perder valor rapidamente, e suspeitas de um esquema de “rug pull” (puxada de tapete) surgiram. Esse movimento, comum no universo das criptomoedas, envolve a valorização repentina de um ativo, seguido por uma venda massiva de posições por parte dos seus criadores.

A queda abrupta da $Libra abalou o mercado financeiro da Argentina, provocando uma queda de mais de 5% na bolsa do país. Para um governo já fragilizado por questões econômicas internas, a polêmica ganhou contornos de crise institucional. A oposição rapidamente classificou o episódio como “o mais grave ato de corrupção da história argentina” e sugeriu que o envolvimento de Milei no colapso da criptomoeda poderia configurar um caso de manipulação de mercado para beneficiar grupos específicos. A oposição exige investigações, mas também iniciou movimentos para discutir um possível processo de impeachment do presidente.

A resposta de Milei veio no domingo 16, quando seu gabinete anunciou que o presidente havia solicitado ao Escritório Anticorrupção uma investigação formal para apurar o envolvimento de qualquer membro do governo no colapso da $Libra, incluindo ele próprio. Em sua defesa, Milei afirmou que não estava ciente dos detalhes do projeto e que, ao perceber o risco, removeu o post e optou por não conceder mais publicidade à criptomoeda. “Não estava ciente dos detalhes do projeto e depois de tomar conhecimento dele decidi não continuar a divulgá-lo”, escreveu o presidente argentino no X.

No entanto, a remoção da publicação não impediu que a controvérsia se espalhasse como fogo pela Argentina.

A ex-presidente argentina Cristina Kirchner foi rápida em se posicionar contra Milei, acusando-o de ser um “golpista das criptomoedas”. Segundo ela, Milei estaria diretamente envolvido em um “golpe digital” que teria prejudicado milhares de argentinos que, confiando no aval presidencial, investiram na $Libra e agora enfrentam perdas significativas. Para Kirchner e seus aliados, o caso evidencia uma falta de responsabilidade de Milei, que, ao promover uma memecoin sem um estudo prévio detalhado, teria contribuído para a destruição de riqueza em um país já duramente afetado pela inflação e pela crise cambial.

Por outro lado, os defensores de Milei argumentam que o presidente, como libertário, sempre defendeu o uso de criptomoedas. Para eles, o erro de Milei foi de julgamento, e não de má-fé. Essa narrativa, no entanto, não acalmou os ânimos no Congresso argentino, onde as discussões sobre o futuro do presidente estão esquentando.

Desde que assumiu o poder, em dezembro de 2023, Milei tem buscado maneiras de reestruturar a economia argentina, e as criptomoedas se tornaram parte central de seu discurso. O projeto Viva La Libertad, que promove a desregulamentação financeira e a adoção de ativos digitais, é visto por muitos como uma tentativa de atrair investimentos estrangeiros e modernizar o sistema econômico do país. No entanto, o episódio da $Libra mostrou o lado mais sombrio dessa aposta, na qual a volatilidade e a falta de regulação das criptomoedas podem transformar uma iniciativa inovadora em um desastre financeiro.

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