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Dólar sobe e flerta com os R$ 6 após o anúncio do pacote de corte de gastos

Moeda é vendida a R$ 5.97 no meio da manhã, superando a marca histórica do pregão de ontem, quando encerrou cotada a R$ 5,91

Por Luana Zanobia Atualizado em 28 nov 2024, 10h34 - Publicado em 28 nov 2024, 10h19

O dólar comercial abriu o dia em alta nesta quarta-feira. Por volta das 10h20, a moeda era vendida a 5,97 reais, após uma frustração dos investidores com o pacote fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite anterior e detalhado nesta manhã. A moeda já havia encerrado o dia anterior a 5,91 reais, máxima histórica, refletindo a inquietação do mercado com as direções econômicas do governo.

O tão aguardado pacote fiscal, que foi discutido durante mais de um mês após as eleições municipais, gerou uma expectativa de cortes significativos nas despesas públicas, mas foi visto pelos analistas como decepcionante e insuficiente para conter o crescimento da dívida. “O governo optou por um caminho político em detrimento da responsabilidade fiscal”, afirma Tony Volpon, economista e ex-diretor do Banco Central.

A principal crítica do mercado recai sobre a combinação de medidas que, na prática, se anulam. Por um lado, o pacote prevê cortes de gastos de cerca de 70 bilhões de reais, mas, ao mesmo tempo, oferece uma isenção do Imposto de Renda (IR) que pode gerar uma perda de arrecadação entre 40 bilhões e 80 bilhões de reais, dependendo do cenário. Economistas alertam que as renúncias fiscais praticamente neutralizam os cortes anunciados. “O impacto fiscal real será mínimo, se é que existirá”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Desde a promulgação da PEC da Transição, em 2022, o governo tem lutado para equilibrar suas contas, mas sem sucesso. “Tivemos dois anos consecutivos de déficit, sendo que o do ano passado foi particularmente grave. Neste ano, o déficit deve alcançar 0,6% do PIB, um número que poderia ser ainda maior se não fossem os ajustes artificiais de última hora”, acrescenta Vale. Esses ajustes, no entanto, são vistos como manobras de curto prazo que não resolvem os problemas estruturais da dívida pública.

A dívida pública terminou 2022 em 72% do PIB e está projetada para atingir 84% do PIB até o final de 2026. “Um aumento de 12 pontos percentuais da dívida, em uma economia sem crise, sem recessão e sem eventos extraordinários não faz sentido”, diz Vale. E é justamente esse o estresse do mercado: um governo que, diante desse aumento da dívida, deveria implementar um ajuste fiscal mais robusto, mas acabou fazendo algo superficial.

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O arcabouço fiscal proposto pelo governo já mostrava sinais de fragilidade antes mesmo da aprovação final, e agora parece cada vez mais insustentável. Braulio Borges, economista da FGV/Ibre, resume o sentimento geral: “Esse pacote é como enxugar gelo. Ele adia o problema, mas não o resolve. Não é de se esperar que o arcabouço sobreviva além de 2026”.

O mercado tem reagido fortemente a essas percepções. Com a inflação em rota de alta — estourando a meta de 3% —  e o câmbio sob pressão, os investidores veem riscos crescentes de que o Banco Central será forçado a manter, ou até aumentar, a taxa Selic para controlar as expectativas inflacionárias. A alta do dólar, impulsionada por esses temores, também alimenta as pressões inflacionárias.

A incerteza em relação à trajetória fiscal do país gera um cenário de volatilidade para os próximos meses. O governo, que inicialmente sinalizou que estaria disposto a fazer um ajuste fiscal mais agressivo, recuou diante de pressões políticas e sociais. A estratégia de buscar um equilíbrio por meio de cortes paliativos e compensações fiscais é vista como insustentável a longo prazo. Sem um plano robusto de contenção da dívida e controle de gastos, o Brasil pode enfrentar um cenário de maior instabilidade econômica.

Com o dólar a um passo de romper a barreira de 6 reais, os desafios para a política monetária e fiscal tornam-se ainda mais complexos. Enquanto o governo tenta encontrar soluções que satisfaçam diferentes interesses, a pressão do mercado por medidas mais profundas só aumenta. O cenário que se desenha para 2024 é de maior tensão entre governo, Banco Central e investidores, com os holofotes voltados para as próximas manobras econômicas do país.

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