Dólar fecha a R$ 5,94 com ajuste dos investidores; Ibovespa tem leve queda
Moeda americana apresenta respiro após a ausência de declarações concretas de Trump sobre tarifas e retaliações comerciais

Acompanhando o movimento desenhado ao longo do dia, o dólar fechou em baixa de 1,46% nesta quarta-feira 22, cotado a 5,94 reais. É a primeira vez desde dezembro que a divisa fica abaixo dos 6 reais — e a primeira vez que fecha em 5,94 reais desde 27 de novembro, quando bateu a mesma marca. Perto do fim dos negócios, o Ibovespa tem leve recuo de 0,27%, aos 123.001 pontos.
O movimento é definido por analistas financeiros como um ajuste dos investidores. Durante o segundo dia de mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, não houve novas indicações de planos específicos que ele pretende seguir economicamente, o que abriu um espaço para venda de dólares e recalibramento do preço, além de compra de ações, já bastante desvalorizadas. Mesmo assim, especialistas do mercado acreditam que a desvalorização do dólar perante o real pode não continuar por muito tempo, conforme novas medidas concretas sejam anunciadas lá fora.
Até aqui, a avaliação de profissionais do mercado é de que a agenda “trumpista” já foi, em boa medida, incorporada aos preços — ou “precificada”, no jargão do mercado —, que acabaram ficando “esticados” demais. “Nada em específico aconteceu. Aparentemente, é um ‘desarme’ técnico”, afirma um gestor de uma grande casa multimercado com atuação no Brasil e no exterior, que pediu para não ser identificado. “O mercado está muito ‘comprado’ (em dólar) e não teve fluxo de saída suficiente para sustentar a alta, depois de toda a venda (de dólar em leilões) do Banco Central.”
A isso se soma o ambiente local, com dilemas fiscais não resolvidos desde o anúncio do tímido pacote fiscal do governo no ano passado. Embora seja um momento sensível para o país, de continuidade de deterioração das contas públicas, boa parte desse cenário também já está nos preços dos ativos brasileiros — o que pode significar que eles embutiram um nível de ceticismo maior do que o necessário.
“O dólar subiu muito, foi um movimento exagerado”, afirma o analista de investimentos independente Rodrigo Cohen. “Essa alta do dólar já precificou que o governo não conseguiria controlar os gastos. Então, para mim, o mercado agora está se ajustando.”
Daqui para frente, porém, tanto o mercado de câmbio quanto o da bolsa poderão sofrer novamente a pressão gerada do exterior, à medida que novas decisões de Trump mostrem hostilidade a economias emergentes. Isso pode ocorrer diretamente, via imposição de tarifas comerciais e dificuldades em relações bilaterais, ou indiretamente, com decisões que provoquem a alta da inflação na economia americana e forcem o banco central do país a optar por uma rota de juros mais altos — o que força a saída de recursos estrangeiros de mercados considerados mais arriscados, caso do Brasil.
“Nossa carteira continua ‘long’ (comprada) em dólares contra uma cesta de moedas globais”, afirma o gestor que pede anonimato. “Embora não tenha trazido nada novo até agora, o novo governo americano vai fazer o que está falando. Não é retórica. Isso é negativo para ativos brasileiros.”