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Dólar deve perder mais valor (no mundo, não no Brasil) com Janet Yellen

Reduzir o desemprego é prioridade para secretária do Tesouro indicada por Biden e apoiar uma política monetária de estímulos é inevitável para isso

Por Luisa Purchio Atualizado em 18 jan 2021, 23h12 - Publicado em 18 jan 2021, 19h29

Quando a Covid-19 se espalhou pelo planeta, todos os olhos se voltaram atentamente para os Estados Unidos, o guardião do dólar, a moeda mais forte do mundo. Com a vacina, o vírus deixou de ser o maior risco precificado pelos mercados, que agora se preocupam mais com os nomes que estarão ao lado do novo chefe da Casa Branca para conduzir a economia americana. A secretária do Tesouro dos Estados Unidos é um deles e, na terça-feira, 19, todos estarão na expectativa sobre a sabatina do Senado à indicada pelo presidente eleito Joe Biden ao cargo, a economista Janet Yellen.

De “reputação ilibada” e “notável saber” – como devem ser os indicados ao cargo –, Yellen foi a presidente do Federal Reserve escolhida pelo ex-presidente Barack Obama e ocupou o posto de chairwoman de 2009 a 2017. Agora, no entanto, trabalhará paralelamente ao atual chairman do Fed, Jerome Powell. Na prática, ambos são fundamentais para regular a economia, mas cada um conta com ferramentas totalmente diferentes para isso. O presidente do Fed decide a taxa de juros do país e controla quanto dinheiro circula na economia para manter a inflação e o emprego em níveis adequados. Já a Secretária do Tesouro é conselheira do presidente da República, inclusive a quinta na linha de sucessão. Sua responsabilidade é de poder Executivo, ou seja, pagar os juros dos títulos emitidos, decidir quanto dinheiro será emitido e impor sanções a outros países.

Apesar de a mídia americana antecipar que Yellen defenderá que os “Estados Unidos não buscam uma moeda mais fraca para ganhar vantagem competitiva”, na prática, isso não significa que ela reverterá a política monetária de estímulos trilionários que vêm derretendo o dólar no mundo. “Yellen e Powell são muito parecidos. Trump indicou Powell para substituí-la no Fed e depois de um tempo ele passou a ser chamado de ‘Yellen de Trump’ ”, diz Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da USP. “Ambos são keynesianos e no atual momento a prioridade é a geração de empregos. Para isso, os juros não podem subir e é pouco provável que o dólar se fortaleça”, diz ele.

A política keynesiana é diversa da neoliberal e prega o uso de estímulos governamentais para a economia e a busca da plena geração de empregos. Teorizada após a crise de 1929 pelo britânico John Maynard Keynes, essas medidas foram implementada para a recuperação da economia dos Estados Unidos durante a Grande Depressão, com sucesso. As linhas do New Deal eram keynesianas. Yellen dedicou boa parte de sua carreira acadêmica a estudar o emprego e certamente esta será uma de suas prioridades. Para isso, portanto, serão necessários mais estímulos econômicos e amplos auxílios monetários, o que vem de encontro tanto à democrata onda azul quanto aos recentes discursos de Powell. Recentemente, ele afirmou que os estímulos monetários continuarão até a crise amenizar e que isto está longe de acontecer. Para se ter ideia, hoje os Estados Unidos possuem 10 milhões a mais de desempregados em relação ao cenário pré-pandemia.

A fala de Yellen sobre não intervir para enfraquecer a moeda americana quer dizer, portanto, apenas que ela deixará o mercado decidir as taxas de juros cobradas pelos títulos do Tesouro Direto. Diferentemente da China, por exemplo, que enfraquece a sua moeda para ganhar vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes internacionais e assim conseguir ganhar com preços mais baixos, ela não pretende intervir nessa dinâmica. “É uma abordagem hands-off, ou seja, sem intervenção do governo. Ela não vai fazer nada para fortalecer e nem desvalorizar a moeda, mas na prática a injeção de estímulos já enfraquece o dólar”, diz o economista Leandro Araújo, diretor de serviços financeiros da IB Consulting.

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Para o Brasil, este enfraquecimento mundial do dólar não é sentido tão diretamente uma vez que a moeda brasileira sofre com o próprio risco fiscal e as instabilidades políticas do país. No longo prazo, porém, tanto o Brasil quanto outras economias mundiais devem ficar atentos à reação da economia americana após a crise da Covid-19. Assim que ela começar a caminhar e os empregos forem recuperados, certamente os juros subirão novamente e o dólar voltará a se fortalecer.

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