Diante do coronavírus, shoppings reduzem horário de funcionamento no país
Devido à queda no fluxo de visitantes e às determinações de órgãos da saúde, centros comerciais estão restringindo os horários
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), está adotando uma postura enérgica para combater a disseminação do novo coronavírus (Covid-19) no estado fluminense. Ao declarar estado de emergência, o político decretou a suspensão de aulas, jogos de futebol, shows, sessões de cinema e teatro, funcionamento de centros culturais, além de reduzir em 50% a frota de ônibus, barcas, trens e metrô. Fora isso, Witzel recomendou restringir a lotação em bares, restaurantes e lanchonetes, fechar academias de ginásticas e shopping centers. Diante desse cenário, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) orientou, nesta terça-feira 17, que os centros comerciais do Rio de Janeiro operem em horário reduzido, das 12h às 20h, a partir desta quarta-feira 18.
Uma das maiores operadoras de shopping centers do país, a Multiplan, confirmou a VEJA que está adotando a medida — e não só no Rio de Janeiro. Os 18 empreendimentos administrados pela empresa no país passaram a funcionar, a partir desta terça-feira 17, das 12h às 20h. Além de reduzir a carga horária, o grupo afirma que está reforçando medidas relacionadas à higiene nos estabelecimentos. “A Multiplan esclarece adotou uma série de medidas, no sentido de intensificar ainda mais a limpeza e higienização de suas dependências, e veicula em suas instalações campanhas educativas sobre o assunto”, informou a companhia.
O grupo Iguatemi, que administra centros comerciais de alto padrão, também seguiu a orientação da Abrasce e está funcionando das 12h às 20h entre segunda-feira e sábado. Aos domingos, o expediente da rede de shopping centers será das 14h às 20h. “Essa é uma medida responsável de cuidado e respeito com o próximo, que faz parte das ações de mitigação dos possíveis impactos do coronavírus e está de acordo com os protocolos de segurança recomendados pelas autoridades da saúde”, diz o Iguatemi. O Partage Shopping São Gonçalo, localizado na Baixada Fluminense, também confirma a redução de horário. O grupo, que administra sete empreendimentos pelo país, ainda discute se levará as medidas para outros estados.
Já os complexos administrados pela brMalls, outra das maiores operadoras de shoppings no país, também aderiram às medidas. Os estabelecimentos do grupo no estado fluminense funcionarão entre 12h e 20h. Nem todas as lojas, entretanto, estarão à disposição dos consumidores. Apenas supermercados, laboratórios, clínicas, bancos, farmácias, restaurantes, bares e lanchonetes estarão abertos, sendo que os demais lojistas permanecerão fechados até o dia 1º de abril. A partir do dia 2 de abril, o funcionamento do NorteShopping, Shopping Tijuca e do Plaza Niterói, todos administrados pela companhia, voltará ao horário habitual. Também haverá restrição no horário de funcionamento para outras praças.
VEJA antecipou essa movimentação na segunda-feira 16, quando a Abrasce se reuniu com a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) para definir diretrizes e unificar reivindicações do setor. Segundo Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, a entidade não prevê a paralisação dos estabelecimentos pelo país. A despeito da redução no número de visitantes, entende-se que algumas divisões ainda conseguem manter as portas abertas no período de baixa circulação. “Segmentos voltados ao mercado pet, farmácias e supermercados continuam recebendo um grande volume de clientes”, diz Sahyoun. “O segmento de alimentação rápida, por sua vez, acabou registrando um aumento no movimento de entrega via delivery, o que acaba substituindo a queda natural no fluxo dos restaurantes.”
Ainda não está claro, no entanto, se haverá redução de salários dos funcionários das varejistas. No Rio de Janeiro, os lojistas que optarem por não abrir suas portas não serão multados pelos shoppings, segundo a Abrasce. “Tal medida atende a solicitação dos lojistas e está alinhada com a recomendação do Poder Público para a redução de circulação de pessoas sem, todavia, paralisar totalmente as atividades, em especial os serviços de utilidade pública”, afirma a associação. Estuda-se ainda a possibilidade do adiamento do fundo de promoção e propaganda, despesa obrigatória para operadores nos estabelecimentos.
Com a disseminação da pandemia pelo Brasil, o Índice de Performance do Varejo (IPV) encomendou um estudo para a FX Retail Analytics e a F360º sobre o desempenho do comércio varejista na última semana. Segundo a pesquisa, na comparação com o fluxo de visitantes do fim de semana anterior (7 e 8 de março), a queda foi de 18,89% em lojas de rua e de 23,04% em shopping centers. Drogarias formam o único segmento que registrou um aumento no total de consumidores no fim de semana dos dias 14 e 15 de março. No total, houve um crescimento de 37,14% em relação ao fim de semana anterior. As regiões Sudeste e Sul são as que registraram as maiores quedas nos comércios varejistas. O fluxo de visitantes das lojas do Sudeste caiu 24,54% em relação ao fim de semana anterior e 22,88% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já o índice do Sul teve queda de 26,40% no comparativo com 7 e 8 de março de 2020 e de 31,80% com o mesmo período de 2019. A tendência enxergada no horizonte não é de melhoras no curto prazo. O enxugamento do horário de funcionamento, no entanto, serve para mitigar parte dos custos dos empreendimentos.