Decisão do Fed estimula investimento no real no curto prazo
Jerome Powell mantém estímulos e dólar em tendência baixista global. Desde maio, moeda brasileira teve alta de 8,20%, a maior entre os emergentes
Nesta “super quarta”, 16, o Federal Reserve Bank divulgou a ata sobre a reunião de decisão sobre os juros americanos. O Fomc manteve a taxa de juros entre 0 e 0,25% e o ritmo de compras de títulos de 120 bilhões de dólares nos patamares atuais. O destaque ficou por conta de uma antecipação da alta de juros. A mediana das projeções aponta que haverá duas altas nos juros até 2023 – na última reunião de março, ela previa que não haveria nenhuma alta até pelo menos 2024.
Dos 18 presidentes dos bancos centrais estaduais que participam do comitê, 13 preveem aumento do juros até o final de 2023, sendo que sete deles estimam dois aumentos até lá. Apesar de o gráfico de pontos reunir e projetar a expectativa dos membros do Fomc sobre a recuperação da economia americana, Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou na coletiva de imprensa que ele é “altamente incerto”.
“As projeções dão uma ideia de como os participantes veem a evolução da economia no caso mais provável”, disse Powell. “Muitos participantes estão mais confortáveis com o fato de que as condições econômicas na orientação futura do comitê serão atendidas mais cedo do que o antecipado. Isso seria um desenvolvimento bem-vindo, se tais resultados se materializarem significa que a economia terá progredido mais rapidamente em direção aos nossos objetivos”, disse ele.
A mudança que era aguardada pelos analistas, em relação ao início das discussões sobre a diminuição do programa de títulos pelo Fed, não se confirmou. O Fomc afirmou que, mesmo com a forte recuperação econômica dos Estados Unidos, o Comitê de Política Monetária (FOMC) mantém o ritmo do programa de compras no patamar atual. “Nas próximas reuniões o comitê continuará avaliando o progresso da economia em direção às nossas metas e avisará com antecedência antes de anunciar qualquer decisão”, disse Powell.
As decisões divulgadas nesta quarta-feira, 16, mantém positivas as perspectivas para o real, que no curto prazo vem se valorizando em relação ao dólar – ou melhor, se recuperando da desvalorização que sofreu desde o ano passado. A força da moeda brasileira em relação à americana é influenciada por dois fatores: o primeiro envolve as decisões do Banco Central do Brasil e seu cenário doméstico – bastante instável, diga-se de passagem -, e o segundo é o cenário nos EUA e a direção de sua política monetária e fiscal.
A recente melhoria do cenário doméstico brasileiro, com alta na projeção do crescimento do PIB de 2021 e perspectivas de menor risco fiscal impulsionaram o real recentemente. Desde maio, a moeda brasileira teve alta de 8,20% em relação ao dólar, a maior valorização entre os países emergentes e mais de 4 pontos percentuais acima da segunda moeda do ranking, o rand sul-africano. “A moeda brasilera estava muito para trás e, com o ajuste do crescimento, está se recuperando frente a outros emergentes”, diz Thomás Gibertoni, economista da Portofino Multi Family Office. “A expectativa de alta da Selic até o final do ano em conjunto com as constantes revisões do PIB para cima dão margem à mais valorização”.
Os sinais do mercado internacional, por sua vez, também são favoráveis para esta trajetória de alta do real no curto e médio prazo. A decisão do Fed divulgada hoje mantém até 2023 a política econômica estimulativa que deixa o dólar em tendência baixista e estável no mercado internacional. O DXY, índice que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moedas, a principal delas, o euro, mostra que os tempos em que o dólar disparou ficaram para trás. O índice sobe quando aumenta o risco global e ultrapassou 93 com a Covid-19, mas com as vacinas nos EUA ele caiu e agora se mantém próximo a 90, patamar pré-pandemia.
Além disso, a inflação que ameaçava os juros dos títulos do Tesouro Americano para 10 anos já é dada como temporária por grande parte do mercado, o que arrefeceu a pressão sobre eles. Os indicadores mostram que a plena recuperação do emprego no país ainda está distante, bem como o atingimento das metas de inflação. Os chamados yields hoje oscilam em torno de 1,5%, mesmo patamar pré-crise. Este nível é equilibrado, muito distantes dos 0,53% atingidos em junho do ano passado, auge da crise da Covid-19, e dos 1,74%, pico da preocupação em relação à inflação dos EUA.
Por todos estes motivos, pouco muda com o comunicado de hoje do Fed quanto às expectativas em relação ao real, ou seja, as notícias continuam positivas para a moeda. Ela só sofrerá um impacto dos Estados Unidos se a projeção sobre a subida dos juros básicos por lá mudar radicalmente, a inflação realmente se tornar uma ameaça no país ou o ritmo de compras dos títulos públicos pelo Fed se alterar bruscamente, o que ainda está distante de acontecer.