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Cortar zeros não acaba com inflação de 1.000.000% da Venezuela

Na avaliação de especialistas, medida é inócua

Por Redação
Atualizado em 20 ago 2018, 18h55 - Publicado em 20 ago 2018, 15h06

Para tentar controlar uma inflação anual, estimada em 1.000.000%, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou na sexta-feira um pacote de medidas econômicas. A mais visível é a substituição da moeda bolívar forte pelo bolívar soberano, com o corte de cinco zeros. Dessa forma, 50 milhões de bolívares fortes passaram a valer 500 bolívares soberanos a partir desta segunda-feira.

O simples corte de zeros, na canetada, não é suficiente para controlar a alta de preços. O Brasil já tentou esse remédio na década de 80 e o resultado foi o sumiço de produtos no comércio, situação bem mais leve que a vivida na Venezuela hoje, gerando mais inflação de demanda.

Livio Ribeiro, pesquisador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), diz que a inflação precisa ser combatida com aumento da oferta de produtos. Enquanto não houver oferta de produtos e serviços em quantidade suficiente para atender à demanda, os preços continuarão a subir.

“A Venezuela é um país que está implodindo, com descasamento entre oferta e demanda, brutal empobrecimento da população e falta de confiança na gestão do país. Em um cenário desses, cortar zeros não muda nada”, afirma Ribeiro.

Segundo ele, a inflação de 1.000.000% é um sinal do profundo descontrole da política econômica da Venezuela. “O país está em convulsão, já perdeu a referência de preços, que sobem de forma contínua e crescente.”

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Para Walter Franco Lopes, professor de economia do Ibmec, o corte de zeros é uma medida paliativa para a crise econômica vivida pelo país. “Imagino que o governo tenha a intenção de facilitar as transações financeiras no dia a dia, já que era necessário carregar milhares de bolívares para o pagamento de pequenas despesas.”

A solução para a inflação descontrolada da Venezuela, segundo os dois especialistas, passa pela redução da interferência do governo no mercado, retomada de investimentos internacionais por meio da elevação da confiança no país e aumento dos investimentos para ampliar a produção da PDVSA, a estatal petrolífera do país.

“A Venezuela tem um problema grave para se refinanciar interna e externamente, e por isso emite moedas para resolver pendências do dia a dia. Com mais emissão, não tem como conter a inflação”, diz Franco, do Ibmec.

Ribeiro, da FGV-Ibre, tem uma visão mais pessimista sobre o futuro da Venezuela. “O país está avançando para o estágio pré-civilizatório, está virando o Zimbábue. É um caso crônico, tem hiperinflação, mas sem diagnóstico.”

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