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Copom mantém Selic a 13,75% pela 7ª vez e não dá pistas claras sobre corte

A Selic chegou a 13,75% em agosto do ano passado, nas vésperas do período eleitoral, e com a inflação começando a desacelerar

Por Pedro Gil Atualizado em 21 jun 2023, 18h52 - Publicado em 21 jun 2023, 18h42

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano e não sinalizou com clareza que iniciará o processo do processo de corte de juros para a próxima reunião do colegiado, em agosto, algo que era esperado pelo mercado. “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia“, afirma em comunicado divulgado nesta quarta-feira, 21.

Agora, o mercado financeiro aguarda a ata da reunião, a ser divulgada na próxima terça-feira, 27, em que haverá um detalhamento sobre o cenário e mais pistas sobre a visão do colegiado sobre a condução da política monetária. A diferença deste comunicado para os anteriores é que o Copom suprimiu a parte em que dizia que “não hesitaria” em subir os juros caso houvesse risco de reversão de cenário. “O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz o colegiado, em tom conservador. 

Entre os cenários que ainda geram riscos altistas para a inflação estão a persistência da pressão inflacionária global, desancoragem da inflação a longo prazo e também o que chamaram de “incerteza residual” sobre o desenho do arcabouço fiscal. O texto, que pode ser votado ainda nessa quarta no Senado retirou alguns pontos do teto, como o Fundeb, aumentando a desconfiança sobre o grau de aperto da medida. Em contrapartida, o BC reconhece a queda dos preços e chama atenção sobre a desaceleração do mercado de crédito em âmbito doméstico, devido as altas taxas.

A Selic chegou a 13,75% em agosto do ano passado, nas vésperas do período eleitoral, e com a inflação começando a desacelerar. Já o início do ciclo de altas é de 2021, quando a taxa inflacionária, em especial dos alimentos, acelerou e retirou o país do patamar de juros de 2% ao ano.

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Além da pressão vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu entorno, o coro pela redução da Selic ganhou o reforço de empresários de peso. Neste mês, em evento com a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, pediu um sinal da redução da Selic, afirmando que “ninguém aguenta isso”. Em maio, num artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, definiu o patamar dos juros como “perversos”.

O cenário da inflação brasileira melhorou, muito graças a mão firme do Copom, mas a sinalização do fim do ciclo de aperto faz-se necessária para ajudar no crescimento do país. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), ficou em 3,94% em doze meses encerrados em maio — uma redução drástica quando comparada com o mesmo período do ano anterior, em 11,73%. Para o fim deste ano, a expectativa do mercado, segundo o Boletim Focus, é de que a inflação encerre em 5,24%, ainda acima do teto da meta, de 4,75%.

Porém, as expectativas de longo prazo finalmente começaram a ceder. Após ficarem estáveis em 4,0% por várias semanas, o mercado passou a ver uma inflação de 3,90% para 2025 e 3,88% para 2026. Enquanto o cenário inflacionário recua, a atividade econômica melhora. O PIB cresceu em 1,9% no primeiro trimestre, puxado pelo agronegócio. Em contrapartida, houve sinais de desaceleração de demanda, como o consumo das famílias, o que favorece uma decisão de corte de juros, ou neste caso, uma sinalização.

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Sob qualquer ponto de vista, a inflação domada é um alento para o país. Responsável por uma série de distorções na economia, a alta acelerada dos preços acorrenta não apenas os investimentos e o crescimento, mas impõe elevados custos sociais, que tendem a ser inversamente relacionados ao nível de renda dos indivíduos. Inflação sem controle provoca mais danos aos pobres do que aos ricos, o que pode ser ainda mais perverso em uma nação marcada por abismos sociais como o Brasil. Não à toa, os períodos inflacionários são justamente aqueles em que os índices de pobreza historicamente avançaram no país.

O processo desinflacionário demorou para aparecer de forma mais clara, mas os efeitos da política monetária restritiva chegaram”, diz o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da FGV. Até a apresentação do arcabouço fiscal, o temor era que o governo Lula expandiria gastos sem contrapartidas de cortes nas despesas. Com o avanço do novo marco, o risco de o país flertar com a irresponsabilidade fiscal diminuiu consideravelmente. “O arcabouço demonstrou a intenção de controle fiscal e, junto com uma política monetária forte, levou à queda da inflação, o que não é nada surpreendente”, pontua Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda.

Com a inflação sob controle, o mercado financeiro começou a ajustar para baixo a expectativa para a Selic, atualmente em 13,75% ao ano. Mais de 20 gestoras multimercado entrevistadas pela XP apostam que a Selic estará em 12% até o fim do ano. Atualmente, a expectativa oficial, de acordo com o boletim Focus, é de 12,5% ao fim de 2023. A pesquisa da XP é um termômetro, mas o otimismo que ela detectou deve começar a ser mapeado pelo Focus nos próximos levantamentos.

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