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Copom faz novo corte e derruba a Selic para 2% ao ano

Em nona queda consecutiva, a medida incentiva investimentos, mas especialistas alertam para aumento do risco fiscal

Por Luisa Purchio Atualizado em 5 ago 2020, 18h57 - Publicado em 5 ago 2020, 18h20

No final da tarde dessa terça-feira, 5, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou mais um corte na taxa Selic, de 0,25 ponto percentual, para 2% ao ano, menor patamar da história. Foi o nono ajuste consecutivo para baixo feito pelo colegiado. O corte vem em linha com a estimativa do mercado financeiro já que, na última reunião, o comitê havia deixado aberta a possibilidade de mais um ajuste residual como forma de estimular a economia combalida pelo novo coronavírus. a queda na taxa de juros básica brasileira acompanha a política monetária adotada por diversos países para incentivar as economia diante da crise da Covid-19. Juros baixos evitam dinheiro parado em renda fixa como poupança, por exemplo, o que incentiva a migração de investimentos para empresas.

Em comunicado, o Comitê não fecha totalmente a porta para os estímulos. “Devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno. Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva”, afirma.  Na avaliação do colegiado é necessário preservar o processo de reformas pós pandemia “para ppermitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural”.

Além do prenúncio feito pelo próprio Copom, alguns dados contribuíram para que o corte ocorresse. A inflação no Brasil, por exemplo, acompanha a baixa histórica da Selic e está controlada: o boletim Focus prevê que até o final do ano ela ficará em 1,6%, bem abaixo da meta de 4% e do limite inferior de tolerância, de 2,5%. Para o 2021, o número também é confortável: a expectativa de inflação é de 3%, abaixo da meta de 3,75%. Contribui para esse cenário a face deflacionária da crise, com queda de preços causada pela baixa do consumo. Além disso, de acordo com o IBGE, em junho a taxa de desemprego subiu 12,4%,1,7 pontos percentuais a mais que o mês anterior, o que indica mais necessidade de estímulos na economia.

Os juros baixos, porém, podem não ser sustentáveis a longo prazo devido ao seu efeito colateral. Economistas chamam atenção ao fisco fiscal do país. O aumento do endividamento público é um problema anterior à Covid-19. O ciclo de queda da Selic vem ocorrendo desde 2016, quando ela estava em 14,25%. Com a pandemia, esse quadro vem se agravando. Com a queda da arrecadação de impostos devido a desaceleração das atividades econômicas, o déficit fiscal do país entrou ainda mais em sinal de alerta. O risco Brasil pode ser verificado na discrepância entre a taxa básica, atualmente em 2% enquanto o índice DI para 2025 está em 5,36%. “O aumento da preocupação com a situação fiscal do país pode ser um impedimento para cortes futuros da taxa de juros”, diz João Mauricio Rosal, economista-chefe da Guide. “Acredito que o quadro é ruim e clama por mais cortes, mas se isso vai se efetivar ou não dependerá do longo prazo, dos ruídos de Brasília e da questão fiscal”, diz ele.

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Há outros riscos, como o câmbio. “Há algumas nuvens muito longe no horizonte, como o disparo da taxa de câmbio. Se isso acontecer, vai ser necessário subir os juros”, diz o economista Roberto Luis Troster. Além disso, ela pode causar um efeito perverso, contrário ao seu objetivo de buscar mais investimentos. “Quando a taxa de juros fica muito baixa, corre-se o risco de acontecer uma fuga para ativos reais, ou seja, as pessoas tiram o dinheiro da poupança para colocar em dólares, euros, ouro ou imóveis”, diz ele.

Já em relação ao dólar, Rosal, da Guide, acredita que a sua cotação em relação ao real depende mais da evolução da crise sanitária do novo coronavírus que da taxa Selic. “Se o Brasil continuar com uma dinâmica ruim na pandemia e o BC tiver que cortar os juros, isso impactará em mais desvalorização da moeda. Mas isso pode ter um efeito contrário se a economia brasileira começar a melhorar”, diz ele.

JUROS ZERO

Alguns nomes do mercado sugerem que a Selic brasileira deveria cair ainda mais, mas, para outros, um corte maior seria prejudicial para a economia devido ao risco fiscal do país. Diferentemente da economia americana, que atualmente mantém seus juros entre 0 e 0,25%, o Brasil é um país em desenvolvimento e com uma economia mais frágil. Isso significa que é preciso pagar um prêmio mais alto para atrair investidores a assumirem o risco de colocar dinheiro no país. “Obviamente juros mais baixos estimulam a economia, mas se baixar demais podem haver consequências piores, como desvalorização de câmbio e fuga de investidores”, diz Marcel Grillo Balassiano, economista do Ibre/FGV.

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Na expectativa sobre o anúncio do Copom, a bolsa brasileira subiu, embora o resultado tenha sido muito mais influenciado pelo bom humor do mercado externo.  O Ibovespa fechou em alta de 1,57%, a 102,8 pontos. Geralmente a cotação do dólar cai quando a bolsa de valores sobe, porém, hoje a moeda americana fechou em alta de 0,14%, aos 5,2926 reais. “A bolsa está muito ligada a dois componentes: a atividade e as taxas longas, que sofreram muito nos últimos dias por causa da situação fiscal. Isso fez com que o mercado corresse para títulos internacionais na última semana”, diz Rosal, da Guide. No acumulado da semana, o dólar tem alta de 1,45%.

 

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