Concessões levam aeroportos brasileiros à lista dos melhores do mundo
Com quatro representantes no top 10 de ranking global, país mostra que a privatização é capaz de modernizar e melhorar a estrutura aeroportuária
No filme O Terminal, de Steven Spielberg, um cidadão da Europa oriental, interpretado por Tom Hanks, tem o passaporte invalidado ao entrar nos Estados Unidos e é obrigado a viver no Aeroporto John F. Kennedy (JFK), de Nova York. O roteiro é inspirado na história do iraniano Mehran Karimi Nasseri, cuja moradia temporária foi o Charles de Gaulle (CDG), em Paris.
Embora os dois aeroportos internacionais tenham ganhado o estrelato, o despojado Nasseri vivido por Hanks passaria dias mais confortáveis no Aeroporto Internacional Gilberto Freyre, no Recife, ou em algum dos outros três brasileiros listados entre os melhores do mundo pelo Ranking Internacional AirHelp Score 2022. Spoiler: nem JFK nem Charles de Gaulle estão na lista.
Segundo a AirHelp, empresa especializada em direitos de passageiros aéreos, o Brasil é o país que concentra alguns dos melhores aeroportos do mundo. O grupo avaliou 151 deles e instalou um quarteto brasileiro no top 10. O Aeroporto Internacional do Recife ficou com o segundo lugar, atrás apenas do Aeroporto Internacional de Tóquio. Os outros brasileiros que fizeram bonito na lista foram o Aeroporto Internacional de Viracopos (4° lugar), em Campinas; o Aeroporto Internacional Tancredo Neves (6° lugar), em Confins, próximo a Belo Horizonte; e o Aeroporto de Congonhas (7º lugar), em São Paulo.
A pesquisa, realizada entre janeiro e outubro de 2022, avaliou três quesitos: pontualidade, serviços oferecidos e a oferta de lojas e restaurantes. O ranking é elaborado a partir de diversas fontes, incluindo agências governamentais, bases de dados aeroportuários, rastreio de voos e, claro, a opinião de quem mais importa — os usuários. O levantamento vem sendo feito desde 2015, com uma pausa entre 2020 e 2021, por causa da pandemia.
O protagonismo brasileiro cresce a cada ano. Em 2019, apenas dois aeroportos nacionais estavam entre os dez melhores, o Afonso Pena, de Curitiba, e Viracopos. Há razões para isso. “Tivemos um período decisivo de concessões aeroportuárias desde 2011, quando o governo federal outorgou à iniciativa privada a administração de diversos aeroportos no Brasil”, diz Luciano Barreto, diretor-geral da AirHelp no Brasil. Segundo ele, o movimento resultou em maior pontualidade dos voos (critério que corresponde a 60% da nota final), maior agilidade e melhores serviços. A privatização, portanto, foi crucial.
Na lista, não por acaso, quase todas as instalações listadas são administradas pela iniciativa privada. O aeroporto do Recife é administrado há quase três anos pela Aena Brasil. Viracopos é gerido desde 2012 por um consórcio de três empresas: TPI, UTC Participações e a francesa Egis Airport Operation. O Tancredo Neves, de Confins, tem um sistema similar desde 2013, dirigido por um consórcio formado por CCR e Zürich Airport. Congonhas, por sua vez, será o último a estrear nesse modelo. A gestão será concedida à espanhola Aena Desarrollo Internacional, que fez um lance único de 2,5 bilhões de reais pelo bloco que incluía ainda outros aeroportos em Mato Grosso do Sul, Pará e Minas Gerais. Por enquanto, a gestão continua com a Infraero e o repasse não foi feito oficialmente.
Os sonhos são de voar ainda mais alto. Se depender dos investimentos previstos, a liderança do Recife vem já no próximo ranking. A Aena Brasil vem executando obras desde 2021 em vários de seus aeroportos, incluindo o Gilberto Freyre. O investimento previsto é de 1,4 bilhão de reais na infraestrutura aeroportuária. “Teremos aeroportos mais seguros, ecológicos, confortáveis e com mais capacidade, entregues ao longo de 2023”, diz Marcelo Bento, diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Aena Brasil. Melhorias incluem automação dos processos de imigração, acesso ao embarque e processamento de bagagens, além de novos equipamentos. O Brasil quer seus aeroportos em voo de cruzeiro.
Publicado em VEJA de 11 de janeiro de 2023, edição nº 2823