Como Marcelo Claure vê a chance de comprar times de futebol no Brasil
Presidente do conselho da Shein na América Latina, o executivo é conhecido por ser um assíduo investidor do esporte e analisa a formação das SAFs no país
Em 2013, o empresário boliviano Marcelo Claure, atual presidente do conselho da Shein para a América Latina, causou um frisson ao anunciar que estava negociando com o galáctico jogador inglês David Beckham, sócio e amigo, para que este atuasse no Bolívar, clube administrado pelo magnata. No fim das contas, tudo não passou de uma pose para foto na época, mas os dois viriam a reforçar os laços com a criação do Inter Miami, clube que disputa a liga de futebol americano. Hoje, com a abertura do mercado brasileiro para a criação das chamadas SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que abre a possibilidade para a aquisição de times por parte de empresas e empresários, Claure avalia que a profissionalização do esporte no país (que também passa pela criação de uma liga nos moldes do atual campeonato inglês e espanhol) deve fortalecer os clubes e o nível do jogo praticado por aqui.
Além do Bolívar e do Inter Miami, Claure também detém uma porcentagem do Girona, clube da região da Catalunha, que tem feito uma boa temporada na La Liga, o campeonato espanhol. Sócio de empreitadas do City Football Group, dono de vários times pelo mundo, sendo o principal deles o Manchester City, ele diz que ainda não deve fazer investimentos no país, já que seu parceiro comercial acaba de adquirir o Bahia. “De uma maneira ou de outra, o Bahia vai fazer parte da minha família do futebol”, afirmou ele, em entrevista a VEJA.
A nova liga brasileira trará, em sua visão, maior reputação para o futebol brasileiro — Claure elogia o interesse do fundo Mubadala na estruturação do campeonato a partir de 2025. “O futebol era algo pouco transparente [no Brasil]. É ótimo que finalmente os clubes brasileiros possam, através desse novo modelo de gestão, serem comprados por empresas e empresários responsáveis para que o campeonato seja muito mais competitivo”, complementa. Claure diz que uma característica de ligas bem estruturadas é o fomento a transações no mercado interno, o que deve fazer com que as novas estrelas atuem por mais tempo no país. “Quando você tem uma boa liga de futebol, muitos jogadores preferem ficar no mercado. Para mim, é muito positivo que um país tão futebolístico como o Brasil esteja avançando nesse nível.”
Questionado sobre o desempenho de seus clubes, sobretudo o Bolívar e o Girona, Claure mostra-se satisfeito, mas tenta conter a euforia. O Bolívar, hoje, é líder do Grupo C na Copa Libertadores, à frente do Palmeiras. “É um trabalho que é feito dia a dia. Estamos muito bem nessa fase, mas vamos ver o que acontece daqui para frente. Para mim, seria uma grande conquista se o Bolívar conseguisse passar para a próxima fase”, diz ele. O Girona, por sua vez, está na sétima posição da La Liga, brigando por vaga em competições europeias no ano de retorno à principal divisão do certame. “Eu acho que nunca um time que subiu para a La Liga disputou já no primeiro ano para entrar em uma copa europeia. É um sonho que estamos antecipando, assim como a Shein antecipou de dois a três anos a fabricação de produtos no Brasil.”