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Como a construção civil pode ajudar a conservar as florestas brasileiras

Segundo diretor da FSC, entre 30% e 50% da madeira consumida no Brasil provém de desmatamento ilegal

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 nov 2025, 08h00 • Atualizado em 21 nov 2025, 12h04
  • A construção civil brasileira consome grandes volumes de madeira em suas obras — desde estruturas temporárias como escoramentos e andaimes até elementos permanentes como pisos, portas, janelas e móveis planejados. A relação entre esse setor e as florestas nacionais, no entanto, permanece marcada por um grave problema: entre 30% e 50% da madeira consumida no Brasil provém de desmatamento ilegal.

    Para mudar esse cenário preocupante, seria preciso adotar práticas responsáveis de aquisição e especificação de madeira. Se assumissem essa responsabilidade, arquitetos, engenheiros e incorporadoras podem tornar a construção civil um setor protagonista na conservação das florestas brasileiras. Segundo Elson Fernandes de Lima, diretor executivo do sistema de certificação FSC no Brasil, esses profissionais possuem o poder de direcionar o mercado ao escolher materiais certificados em seus projetos. A madeira certificada garante rastreabilidade completa da cadeia produtiva, desde a floresta até o produto final, assegurando que a extração foi realizada de forma sustentável.

    Atualmente, a maior parte da madeira nativa comercializada no país — especialmente espécies como ipê, peroba e cumaru — circula sem transparência adequada. O mercado doméstico brasileiro apresenta baixíssima taxa de rastreabilidade, o que impede consumidores de distinguir madeira sustentável de madeira ilegal.

    Além da origem da madeira, há outra questão relevante: o desperdício. Grande parte da madeira utilizada em canteiros de obras é descartada após o uso. Ao adotar sistemas construtivos mais eficientes e optar por madeira certificada inclusive para usos provisórios, o setor pode reduzir significativamente seu impacto ambiental.

    Outra contribuição importante está na diversificação de espécies utilizadas. Atualmente, o Brasil exporta apenas entre 8 e 20 espécies de madeira, apesar da imensa biodiversidade florestal do país. Muitas árvores com potencial comercial permanecem na floresta sem aproveitamento simplesmente porque falta pesquisa, tecnologia e interesse do mercado.

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    Sob a perspectiva ambiental, a madeira proveniente de manejo sustentável apresenta vantagens consideráveis sobre materiais convencionais como alumínio, aço e concreto. Ela captura e armazena carbono durante o crescimento das árvores, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. Construções em madeira podem reduzir em até 50% o tempo de obra e gerar de 20% a 30% menos resíduos. Além disso, pesam até um quinto de outros materiais de construção convencionais, diminuindo emissões de CO₂ no transporte.

    “Ainda existe estigma a ser superado: a madeira é vista como material para extremos sociais — casas muito simples ou muito luxuosas. O mercado intermediário, onde está o maior potencial consumidor, precisa reconhecer a madeira certificada como alternativa viável, confortável e sustentável”, diz Elson de Lima, que esteve na COP30, a Conferência do Clima da ONU, em Belém, para apresentar soluções para o setor.

    O papel regulatório

    Embora a legislação brasileira estabeleça limites para o manejo florestal — permitindo a retirada de apenas três a seis árvores por hectare, em áreas onde até 50 árvores têm valor comercial —, a fiscalização é desafiadora. Por isso, certificações voluntárias por parte das grandes empresas são essenciais, pois verificam o cumprimento das leis e estabelecem salvaguardas adicionais.

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    Movimentos regulatórios também começam a surgir. Tramita no Congresso, por exemplo, um projeto de lei que exigiria madeira certificada em compras públicas. Se aprovada, essa medida poderia impulsionar toda a cadeia produtiva, sinalizando ao mercado privado a importância da certificação.

    A atuação da FSC

    A FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês) é uma organização global sem fins lucrativos com sede na Alemanha. Sua missão é promover a conservação das florestas por meio do manejo responsável, baseado em um tripé de sustentabilidade: ambiental, social e econômico.

    A certificação FSC divide-se em duas etapas. A primeira é da “porteira para dentro”: certifica o manejo florestal propriamente dito, seja em plantações de eucalipto, pinus e bambu, seja em florestas nativas. Essa certificação também abrange produtos não madeireiros como açaí, castanha, mel, óleos essenciais e borracha.

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    A segunda etapa é da “porteira para fora”: certifica toda a cadeia de custódia, ou seja, as empresas que processam, transformam e comercializam produtos florestais — fábricas de celulose, papel, gráficas, serrarias, movelarias. Quando um consumidor vê o selo FSC em um produto final, significa que toda a cadeia foi certificada, garantindo rastreabilidade completa.

    A legislação brasileira permite a extração de três a seis árvores por hectare em planos de manejo florestal, em áreas onde até 50 árvores poderiam ter valor comercial. A certificação FSC verifica se esse limite está sendo respeitado e se o impacto ambiental está sendo minimizado. Quando essas árvores são retiradas, a floresta continua de pé, mantendo a biodiversidade e permitindo regeneração natural.

    Os planos de manejo certificados dividem a área florestal em unidades de produção anual, que são exploradas em ciclos de 25 a 40 anos. Após a exploração de uma unidade, ela só é revisitada no final do ciclo, permitindo recuperação completa do ecossistema. Menos de 1% da Floresta Amazônica brasileira tem exploração de certificada.

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