Com Papa Francisco, Banco do Vaticano ficou mais transparente e lucrativo
Historicamente ligado a crimes de lavagem de dinheiro, o Instituto para as Obras da Religião passou por choque de gestão e viu lucro disparar 955%

O Papa Francisco , que faleceu na manhã de ontem 21, não entrará para a história apenas como um reformador da fé católica, mas também como um gestor que procurou modernizar e conferir mais transparência a um assunto bem mais mundano: as finanças do Vaticano. Desde que assumiu o papado em 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio promoveu uma discreta revolução no Institute per le Opere di Religione (ou IOR, Instituto para as Obras da Religião). Mais conhecido como o Banco do Vaticano, o IOR era frequentemente associado a crimes de lavagem de dinheiro da máfia e a outros problemas financeiros, mas foi submetido a uma reestruturação pelo Papa Francisco.
Já em seu primeiro ano de pontificado, ele adotou uma medida simples, mas significativa para uma instituição até então conhecida pela grande falta de transparência: obrigou o Banco do Vaticano a publicar suas demonstrações financeiras, como qualquer outra instituição. A partir de 2015, o IOR estabeleceu diversos convênios e parcerias com governos, bancos e autoridades da Itália, União Europeia, Estados Unidos e outros países, a fim de trocar informações sobre transações financeiras entre seus clientes e outras instituições. O objetivo era reforçar o combate à lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros.
Em 2019, Francisco deu mais um passo para fortalecer a governança do Banco do Vaticano, ao determinar que seus números fossem auditados por uma auditoria externa independente. Até então, o estatuto da instituição estabelecia que essa função seria desempenhada por um comitê interno. Ao mesmo tempo, o pontífice reforçou a vocação do banco como uma instituição que deve apoiar as obras de caridade e assistência social, por meio da aplicação de seus recursos e lucros.
O primeiro efeito prático das mudanças foi a redução do número de clientes. Em 2013, no primeiro ano de seu papado, o IOR contava com 17 419 clientes. No relatório mais recente, de 2023, eram apenas 12 361 clientes. Embora o Banco do Vaticano não confirme oficialmente, especialistas atribuem o recuo de 19% à extinção de contas problemáticas.
Apesar do forte enxugamento da clientela, o total de ativos sob gestão ou custódia caiu menos no período: 8,5%, baixando de 5,9 bilhões de euros para 5,4 bilhões. A maior fatia (48%) desses recursos pertencem às ordens religiosas (congregações, associações, seminários, colégios, universidades, mosteiros e conventos). Em segundo lugar, com 28%, está a Cúria Romana, que composta pelos órgãos administrativos da Igreja Católica.
O Banco do Vaticano também ficou mais lucrativo. No primeiro ano do papado de Francisco, a instituição apresentou lucro líquido de apenas 2,9 milhões de euros. Uma década depois, os ganhos já eram de 30,6 milhões. Desse total, 13,6 milhões foram distribuídos como lucros e dividendos, consoante o estatuto aprovado em 2019, que prioriza a aplicação dos recursos em obras para os mais vulneráveis.
Veja o relatório de resultados de 2023, publicado pelo Banco do Vaticano: