Com exploração sustentável, CRAS Madeira expande e ganha mercado no Sudeste
Mostrando que manejo florestal sustentável é bom negócio, empresa ganha confiança do mercado interno com móveis e produtos de madeiras nobres da Amazônia
Apesar de ser defendida desde os anos 1980 pelo ativista ambiental Chico Mendes, a exploração de recursos por meio do manejo florestal ainda é pouco conhecida e divulgada. Na exploração de madeira – em operações por meio de concessões federal ou estadual que duram 30 anos e são supervisionadas pelo Ibama – a prática permite à floresta se regenerar naturalmente. Isso porque são retiradas apenas as árvores mais velhas, o que é benéfico para o crescimento das árvores mais jovens que capturam mais carbono do ambiente. Para se ter uma ideia, a taxa de crescimento da floresta é de 1 metro cúbico ao ano e o manejo florestal prevê que a cada hectare, sejam retirados apenas 30 metros cúbicos de madeira, algo em torno de 3, 4 árvores.
O carioca Rodrigo Chitarelli, sócio fundador e CEO da CRAS Madeira, diz que foi esse o ponto que mais chamou atenção quando começou a estudar a diversificação dos negócios da CRAS Brasil para o ramo da extração de madeira. Maior exportadora de óleo de amendoim, a empresa atua em diversos segmentos como agronegócio e energia e desde 2017 entrou no mercado internacional da madeira, expandindo sua atuação para o mercado nacional, mais recentemente.
“Para nós, aqui do Sudeste, o manejo florestal parecia que era algo muito novo, apesar de não ser e nos mostrou que a madeira realmente é algo perpétuo, é uma operação que você vai ter pro resto da vida”, diz. Ao identificar que havia ali uma grande oportunidade de negócio, Chitarelli mergulhou no universo da madeira e direcionou seu foco para a exportação.
Ipê, garapa, tauari, itaúba, jatobá, maçaranduba são alguns tipos de madeiras nobres que começaram a ser colhidas pela empresa por meio do manejo florestal e exportadas. “Comecei a aprender muito, principalmente com a exportação, principalmente porque o mercado europeu, ele exige muitas documentações, certificações”, diz. Entre os produtos vendidos pela CRAS, estão móveis rústicos e carbonizados, decks, portas, rodapés, assoalhos, ripas, tábuas e vigas, produzidos na fábrica da companhia no Pará.
Para poder exportar, é preciso ter uma licença (LCPO) do Ibama para cada remessa. Além de toda documentação e licença obrigatórias por lei brasileira, a CRAS Madeira é membro e possui a certificação do Forest Stewardship Council (FSC), que atesta cujas florestas são manejadas de forma responsável.
Certificação abre portas
Esse tipo de certificação do FSC tem crescido no país. Nos últimos cinco anos, a área certificada, em hectares, no Brasil, cresceu pouco mais de 40%, de 6,7 milhões para 9,4 milhões. No mesmo período, o número de certificados de manejo florestal cresceu 23,4%, de 128 para 158. “Os principais mercados internacionais estão cada vez menos dispostos a comprar produtos que não eliminem o risco de uma falsa legalidade; e é aqui que o FSC ainda faz diferença, porque apresenta garantias de redução desse risco”, explica o diretor executivo do PSC, Elson Fernandes de Lima.
Estados Unidos e Europa são os maiores mercados da CRAS Madeira, que ao todo exporta para mais 100 países. De acordo com Chitarelli, seu principal “concorrente “ é a exploração ilegal e criminosa Por isso quando se apresenta como empresário do setor de exportação de madeira as pessoas ainda torcem o nariz. “Eu convido a qualquer um a conhecer como funciona uma operação de exportação de madeira, as pessoas não têm noção do quão complexo é, do quão rigoroso é”, diz.
“O ambiente de ilegalidade ainda penaliza o setor como um todo, segundo Lima. “A certificação funciona como uma garantia que abre portas”, diz. De acordo com o diretor do FSC, faz parte também do trabalho do conselho desmistificar o manejo florestal, e mostrar os benefícios dessa prática.
Com imagem associada ao desmatamento, a madeira enfrenta a substituição por outros materiais, como aço e plásticos. “Mas no caso da construção, a madeira é o único material renovável e tem um ótimo desempenho energético ao longo da vida útil de um edifício”, diz Lima. Em comparação com outros materiais de construção tradicionais, como o aço, a madeira requer muito menos energia para ser produzida, logo, consome menos recursos naturais.”
Mercado interno ganhou importância no pós pandemia
Há dois anos, os olhares da CRAS Madeira se voltaram ao mercado varejista interno. “No pós-pandemia, vimos que o mercado de construção deu uma alavancada e como temos um produto muito bom, entendemos que deveríamos entrar no mercado interno”, diz.
Para vender ao consumidor nacional sem intermediários, a empresa criou um centro de distribuição em Itaipava (RJ), que recebe semanalmente caminhões com os produtos do Pará.
Em agosto de 2023, abriu uma loja conceito no local, para atender clientes, entre construtores, engenheiros, arquitetos, decoradores, designers e engenheiros. “A gente montou uma serraria totalmente diferente do que existe hoje no Brasil. Mostramos por que usar a madeira. A madeira não é vilã. Pelo contrário, é solução, mas tem que tomar os devidos cuidados”. Entre as principais medidas para evitar compra de madeira de origem ilegal, é preciso exigir a documentação do produto e verificar a origem por meio do Documento de Origem Florestal (DOF), expedido pelo Ibama.
Recentemente, a empresa ampliou o acesso dos consumidores às informações de origem dos produtos vendidos. Eles vêm com uma placa com QR em que é possível rastrear a espécie, origem da madeira e do manejo florestal de onde ela vem contendo o número da autorização de exploração florestal emitida pelo Ibama. A tecnologia utilizada mostra no mapa a área exata na floresta da madeira colhida que deu origem ao produto.
Com a entrada forte no segmento varejista brasileiro, a CRAS Madeira almeja ultrapassar os R$ 300 milhões de faturamento nos próximos cinco anos. “Fomos ganhando a confiança dos compradores e expandindo o negócio”, diz Chitarelli. A empresa inaugurou neste mês de agosto uma nova loja no Casa Shopping, no Rio de Janeiro (RJ) e já conta com uma unidade em São Paulo, um escritório exclusivo para receber arquitetos e decoradores. Atualmente, seus produtos também estão expostos na mostra Beach Country, na loja da Artefacto da capital paulista.
Manejo florestal sustentável
O manejo florestal é um bom negócio porque valoriza a floresta viva e gera riqueza para comunidades ribeirinhas. “É fundamental entender que manejo florestal não é desmatamento – pelo contrário, é uma poderosa ferramenta econômica que, ao mesmo tempo em que garante a manutenção da floresta em pé, promove oportunidades de emprego e move a economia do país. Assim, faz parte do nosso trabalho, desmistificar o manejo, a certificação e revelar seus benefícios”, diz Lima.
O caminho para ampliar a exploração sustentável ainda é longo na Amazônia. Se por um lado, o setor de árvores plantadas já é melhor estabelecido, com mais de 6,5 milhões de hectares certificados, o potencial do Brasil em relação à certificação de floresta tropical natural é enorme, segundo o FSC e vai além da madeira, englobando produtos florestais como óleos essenciais, açaí, castanha-do-Brasil, mel, e fibras, por exemplo. “ Atualmente, a área de floresta nativa certificada na Amazônia, considerando pequenos produtores, comunitários, empresas privadas e concessões, totaliza quase 3 milhões de hectares, o que é muito pouco, equivalente a apenas 1% de tudo o que pode ser certificado na Amazônia”, diz.