Com ano desafiador no radar, a palavra de ordem nos investimentos é segurança
O novo ano deverá repetir o cenário de 2024 e oferecer ambiente propício para investimentos em renda fixa e em ativos no exterior

Para muitas pessoas, o ano novo é sinônimo de mudança. Para os investimentos, nem tanto. Embalados por juros em alta, inflação fortalecida e câmbio depreciado, os investidores têm poucas histórias positivas para contar. A situação está mais para o contrário: o ambiente de negócios no Brasil vem oferecendo escassas novidades para as carteiras, que seguem concentradas em renda fixa e ativos fora do país. E, ao que tudo indica, esses serão os votos renovados em 2025.
A preferência por algumas classes de ativos não implica o descarte das demais, já que uma carteira diversificada deve contar com vários segmentos. O ponto é que algumas classes apresentam expectativas melhores na relação entre risco e retorno. É o caso da renda fixa, em que estão os títulos de dívida pública e corporativa, sejam eles pós-fixados — atrelados à taxa Selic ou à inflação — ou prefixados. Esse é o grupo que deverá continuar atraindo capital no ano que vem, assim como se viu ao longo deste ano. “Não tem como fugir de uma postura mais conservadora”, diz Álvaro Frasson, economista do banco BTG Pactual. “Estamos perdendo a credibilidade fiscal, em um ambiente mais difícil para mercados emergentes, com câmbio depreciado, inflação alta e transição no Banco Central.”
No caso dos produtos ligados à inflação, a remuneração alta dos títulos salta aos olhos, com os investidores cobrando perto de 7% de “prêmio” — a taxa extraordinária além do indexador do título exigida pelo credor para aceitar o risco de aquisição do papel. “É uma oportunidade que não aparece toda hora”, afirma Rodrigo Knudsen, sócio da gestora Etti Partners. “É a classe de ativo que protege o investidor em termos reais e pode dobrar o patrimônio em dez anos.”
Nem tudo são flores. O investidor só ganhará o que foi acordado na compra do título se carregá-lo até o vencimento. Para emissões de longo prazo indexadas à inflação, isso significa volatilidade, porque os preços negociados no mercado mudam a todo momento. O que acontece é: ao longo do período do investimento, o nível dos prêmios oscila conforme pioram ou melhoram as expectativas do mercado. No atual cenário, com os prêmios já elevados, pode-se ver um bom ponto de entrada para produtos de inflação. O problema é que, se o cenário piorar ainda mais e os prêmios subirem, os preços dos títulos cairão — é a chamada marcação a mercado, o terror dos investidores desavisados. Para enfrentar esse cenário de incerteza, a indicação é não fugir do básico: ter uma boa parcela dos investimentos em produtos ligados à Selic. “Ninguém sabe onde a Selic vai parar, o que se sabe é que os juros estão estruturalmente mais altos”, afirma Odilon Costa, estrategista de renda fixa e crédito privado do Grupo SWM. “A preferência deve ser por títulos de inflação de curto prazo e títulos ligados à Selic.”
Uma carteira bem posicionada para 2025 também precisa de diversificação internacional para diminuir o risco país. Na divisão dos recursos destinados ao exterior, a alocação tradicional indicada é de 60% para papéis de dívida do governo ou de boas empresas, adquiridos facilmente por meio de ETFs (fundos que replicam índices) em corretoras brasileiras com acesso ao mercado americano. Os demais 40% devem ir para ações americanas, compradas diretamente lá fora ou na B3, a bolsa de valores de São Paulo, via BDRs (recibos de ações, que replicam o desempenho do papel no exterior). “Além disso, faz sentido ter um percentual alocado em commodities e ouro para equilibrar o risco”, diz Alexandre Cancherini, sócio da companhia global de investimentos Galapagos. Ao que tudo indica, o conservadorismo e um pé fora do Brasil são as saídas para ter um feliz ano novo nos investimentos.
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Publicado em VEJA, dezembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 9