China entrará com processo na OMC contra tarifas recentes dos EUA
Para o governo chinês, tarifas impostas em agosto são contrárias ao que foi decidido entre os dois países no G20
O Ministério do Comércio da China informou nesta segunda-feira, 2, que entrará com um processo no mecanismo de resolução de disputas da Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o primeiro lote de tarifas dos Estados Unidos sobre 300 bilhões de dólares em importações do país asiático, que entrou em vigor neste domingo 1º de setembro.
“As medidas de tributação dos EUA são seriamente contrárias ao consenso dos chefes de Estado dos dois países em Osaka (na cúpula do G20)”, diz o MofCom em comunicado. “A China está fortemente insatisfeita e resolutamente oposta. Em acordo com as regras relevantes da OMC, a China vai salvaguardar firmemente os seus direitos e interesses legítimos e defender resolutamente o sistema de comércio multilateral e a ordem internacional do comércio.”
O anúncio é o novo capítulo na escalada de tensão comercial entre os dois países, que desde o início de agosto estão em uma queda de braço, marcada pela imposição, dos dois lados, de tarifas comerciais. O confronto vem afetando toda a economia mundial.
No início de agosto, após meses de calmaria e uma reunião promissora no G20, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 10% sobre 300 bilhões de dólares em bens chineses. Segundo ele, a China não teria cumprido sua parte do acordo que vinha sendo negociado entre as duas potências.
Dias depois, a moeda chinesa, o yuan, se desvalorizou para seu menor valor em quase uma década, medida que foi vista como retaliação do governo chinês, já que o câmbio costuma ter forte controle estatal no país. Sob ameaças de uma guerra cambial, os dois países recuaram e Trump anunciou que parte das tarifas seriam adiadas para dezembro.
A sinalização não foi suficiente para o governo de Xi Jinping, que queria a abdicação total de tarifas pelo governo americano. Como isso não aconteceu, taxou de 5% a 25% cerca de 75 bilhões em produtos exportados pelos Estados Unidos. Parte dessas taxas entraram em vigor no doming, 1°, e a outra entrará apenas em dezembro. Como nova retaliação, Trump elevou de 10% para 15% as tarifas sobre os 300 bilhões de dólares e de 25% para 30% a outros 250 bilhões de dólares, ambas já anunciados anteriormente.
Caberá a OMC, agora, avaliar a situação que envolve as duas maiores economias do mundo. Representantes de ambos países já tinham um encontro marcado para negociar acordo no começo deste mês.
Entenda a disputa comercial entre China e Estados Unidos
A tensão comercial entre China e Estados Unidos começou em meados de 2018. Trump foi eleito com uma bandeira forte contra os produtos “made in China”, acusando o país asiático de prejudicar a indústria nacional e gerar desemprego. O ápice ocorreu quando o presidente anunciou tarifas de 25% sobre 50 bilhões de dólares de alta tecnologia chineses e 10% sobre 200 bilhões de dólares de outras mercadorias, em março do ano passado.
Houve retaliação chinesa e a partir de então os dois países iniciaram uma queda de braço que, por envolver as duas maiores potências econômicas do globo, passou a gerar consequências em todo o mundo. A situação esfriou no fim de 2018, com o início de negociações para uma trégua.
Quando a guerra comercial parecia perto de uma solução, Trump anunciou em maio deste ano a elevação de 10% para 25% das tarifas sobre produtos de alta tecnologia chineses. O motivo, segundo o presidente, foi o fato da China ter supostamente quebrado o acordo comercial que os dois países estavam negociando. A medida teve retaliação chinesa poucos dias depois, com aumento das tarifas a produtos dos Estados Unidos, estimados em 60 bilhões de dólares.
Seguiu-se um período maior de tensão, até que, durante o G-20, foi anunciada uma trégua e o reinício das negociações para um acordo. Dias depois, Trump anunciou novas tarifas, o que gerou a volta da tensão a partir de agosto.
(Com Estadão Conteúdo)