Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Carlos Ghosn contra-ataca para tentar reconstruir sua reputação

Caçado pela Interpol, o ex-todo-poderoso da Renault-Nissan tem o desafio de se defender das acusações da Justiça japonesa

Por Larissa Quintino Atualizado em 4 jun 2024, 14h13 - Publicado em 2 abr 2021, 06h00
OBSTINADO - Ghosn: ataques ao governo japonês e às montadoras que presidiu -
OBSTINADO - Ghosn: ataques ao governo japonês e às montadoras que presidiu – (Houssam Shbaro/Anadolu Agency/Getty Images)

Intrigas corporativas, acusação de conspiração e uma espetacular fuga internacional. Parece a sinopse de uma série de streaming, e em breve realmente será. A história da prisão no Japão e da escapada de Carlos Ghosn, o ex-todo-poderoso da aliança Renault-Nissan e um dos principais executivos do setor automotivo, acaba de virar livro e já está na fase de produção para ir ao ar no ano que vem — os produtores estão negociando no momento com as plataformas Netflix, HBO Max e Hulu. A narrativa, ao mesmo tempo épica e rocambolesca, carrega elementos que lembram os jidaigeki, gênero de filmes protagonizados por samurais em que o personagem principal, depois de enfrentar diversos dissabores, avança no contra-­ataque aos rivais. “Parece um filme mesmo, mas para mim foi um pesadelo”, resume o executivo brasileiro-franco-libanês, nascido em Rondônia.

Tanto o livro quanto a futura série fazem parte de um novo desafio empreendido por Ghosn, agora para, além de provar sua inocência, reconstruir sua reputação. O livro Juntos, Sempre, escrito com a esposa, Carole Ghosn, foi lançado na França e chega nesta semana às prateleiras brasileiras pela editora Intrínseca. Pode ser considerado uma espécie de diário do casal sobre o tempo que ambos ficaram separados, porém repleto de detalhes sobre o imbróglio corporativo e jurídico em que o executivo se meteu. Atualmente radicado em Beirute, no Líbano, país que o protege da ordem de prisão nas mãos da Interpol, Ghosn acusa com veemência as autoridades nipônicas e a cúpula da Nissan de terem forjado um “show midiático” para evitar a incorporação total da montadora japonesa pela parceira francesa, dando origem a um colosso corporativo global. “Eles criaram uma grande ficção para me tirar do comando”, alega ele, que era o chefe do conselho de administração da Nissan, apontando participação do governo japonês. “Nada acontece no Japão sem a aprovação do Ministério da Economia. Sei disso baseado na minha interação com o governo por tantos anos.”

Quando fala em ficção, Ghosn se refere diretamente ao processo da Justiça japonesa em que é acusado de haver sonegado cerca de 44 milhões de dólares em impostos. O valor seria metade de um pacote de remuneração aprovado como compensação por sua aposentadoria. “Na verdade, nunca levei essas acusações a sério porque eu sabia desde o começo que isso era um plot, um show. Acusaram-me de sonegar impostos sobre valores que eu nunca recebi”, defende-se. A Embaixada do Japão no Brasil, por sua vez, informa que a acusação envolve não só uma declaração falsa sobre a sua remuneração, mas também a remessa pela Nissan de recursos para contas que, mesmo em nome da empresa, na verdade seriam movimentadas por ele. Desde o fim de 2019, os japoneses também o acusam de saída ilegal do país, depois de ter sido solto sob fiança.

Em sua temporada na prisão, Ghosn passou 130 dias em uma solitária, com um tatame como cama e direito a dois banhos semanais. Foi solto uma primeira vez, mas acabou detido novamente após quatro semanas, pouco depois de conceder uma entrevista coletiva à imprensa. Depois de mais vinte dias de detenção, foi liberado para cumprir prisão domiciliar na capital japonesa, em que era proibido de acessar a internet e de se comunicar com a esposa. De novembro a 30 de dezembro de 2019, quando fugiu, Ghosn só conversou duas vezes com ela por videoconferência — ambas com a presença do advogado e não sem antes o executivo apresentar uma lista dos tópicos que abordaria na conversa. “O juiz chegou a me perguntar por que eu queria conversar com a minha mulher. Ora, porque ela é minha mulher”, ironiza.

Continua após a publicidade
PREJUÍZO - Fábrica da Nissan no Brasil: resultados globais desanimadores -
PREJUÍZO – Fábrica da Nissan no Brasil: resultados globais desanimadores – (Ricardo Funari/Brazil Photos/Getty Images)

Alguns detalhes da fuga do executivo devem aparecer na série, desde que os processos já tenham avançado até lá. É uma forma de preservar pessoas envolvidas na escapada e que acabaram presas nos Estados Unidos e na Turquia — respectivamente, um ex-militar americano e seu filho, que atuaram na segurança de Ghosn, e três funcionários da empresa de táxi-aéreo turca que o levaram para o Líbano. Ele afirma que traçou o plano de fuga em poucas semanas. Alega que deixou o Japão por estar convencido de que não teria um julgamento justo e que era discriminado pelo sistema judiciário por ser estrangeiro. Ele saiu de casa escondido em uma caixa de instrumentos musicais, foi embarcado em um trem-bala para Osaka, cidade onde tomou o jatinho que o levou a Istambul, e de lá seguiu para Beirute.

Em paralelo ao ataque ao sistema judicial e ao governo japonês, Ghosn reserva munição também para as empresas do conglomerado que comandou por vinte anos. Em 2018, a aliança vendia praticamente a mesma quantidade de carros que a Toyota e a Volkswagen, as duas maiores do mundo. No ano passado, a aliança comercializou 7,7 milhões de veículos, quase 2 milhões de unidades a menos que cada uma das concorrentes. A união franco-nipônica ainda amargou um prejuízo de 8 bilhões de dólares. Do topo de sua infinita autoconfiança, Ghosn não titubeia em apontar tais números como o atestado de fracasso de seus sucessores.

Publicado em VEJA de 7 de abril de 2021, edição nº 2732

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.