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Caged decepcionante é ‘culpa’ do governo e não do BC

Entrevistados ouvidos por Veruska Donato falam da relação da Selic com falências das empresas e redução do emprego formal

Por Veruska Costa Donato 28 nov 2025, 12h27 • Atualizado em 28 nov 2025, 12h28
  • A semana encerra com números positivos e negativos ao mesmo tempo — como parece que tem sido a regra na economia brasileira. Isso fica claro na divergência entre os dados, e na explicação sobre como a Selic impacta a saúde financeira das empresas e a geração de empregos com carteira assinada.

    A PNAD Contínua, do IBGE, trouxe taxa de desocupação de 5,4%, o menor patamar desde o início da série histórica e próximo ao pleno emprego. Mas no Caged (cadastro geral de empregados e desempregados do Ministério do Trabalho) o cenário muda de cor. O indicador que mede o emprego formal (carteira assinada) registra a criação de 85,1 mil vagas em outubro — queda de 35% ante 2024 e o pior desempenho para o mês desde 2020 (quando foi reformulado).

    É nesse ponto que começa o embate político. O ministro Luiz Marinho atribuiu o resultado fraco do emprego formal diretamente à Selic. Segundo ele, juros de 15% ao ano inviabilizam investimentos e travam novas contratações. “Todo mundo precisa tomar dinheiro para investir, e ninguém vai tomar”, disse, cobrando sensibilidade do Banco Central.

    Mas o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, parecia alheio à queixa do ministro. Num evento em São Paulo, ontem, ele disse que não há dados que justifiquem reduzir juros agora. “Não tem nenhum dado específico que tenha mudado a nossa direção”. Galípolo também deixou claro que o Brasil tem uma condição estrutural que não é de agora e que demanda o BC dar uma dose maior do remédio para fazer efeito.  

    Economistas como Alex Agostini, da Austin Rating, reforçam que a desaceleração do emprego formal é esperada em um ambiente de política monetária apertada. “Não dá para culpar o Banco Central”, disse, lembrando que juros altos são consequência direta da dinâmica de gastos públicos e da deterioração recente da confiança política. O ministro Luiz Marinho, segundo Agostini, está querendo fazer de uma fotografia presente a história de um filme bonito, “ele tem que sentar com o Haddad e com o presidente Lula e conversar. O governo precisa ajustar sua própria política fiscal antes de apontar o dedo para a Selic”, defende.

    Pnad x Caged

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    A divergência entre os dados dessa sopa de letrinhas tem explicação técnica clara: 

    • Pnad –  é uma radiografia ampla da ocupação no país, incluindo informais, autônomos, trabalhadores por conta própria e subutilizados.
    • Caged – retrata exclusivamente o emprego formal, baseado nas admissões e demissões registradas pelas empresas. Assim, enquanto a PNAD mostra um mercado aquecido, o Caged revela o enfraquecimento das contratações que dependem diretamente de investimento — e, portanto, são mais sensíveis ao custo dos juros.

    Não há contradição: há duas lentes distintas mostrando partes diferentes do mesmo retrato do mercado de trabalho.

    Recuperações judiciais e falências disparam — e o crédito caro é parte da equação

    O aperto financeiro provocado pelos juros aparece com clareza nas empresas. O primeiro semestre de 2025 registrou alta de 18,9% nos pedidos de falência, segundo a Serasa.

    Luciano Lindemann, da FTI Consulting, afirma que muitas companhias chegaram ao limite: operação enfraquecida, custo da dívida explosivo e dificuldade de refinanciamento formam um tripé que empurra negócios para o colapso. “Com Selic a 15%, setores inteiros ficam inviáveis”, disse.

    Os mais atingidos, segundo ele, são:

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    • Agronegócio— queda das commodities, crédito caro e impacto climático.
    • Varejo— consumo fraco e competição do e-commerce importado.
    • Aviação— câmbio elevado pressionando combustível.
    • Construção— financiamentos longos praticamente paralisados.

    E mesmo quando a Selic começar a cair, provavelmente no início do ano que vem, Lindemann alerta que o alívio será lento: empresas carregam dívidas antigas, prefixadas e emissões no mercado de capitais que só refinanciam em ciclos longos.

    Crise política e tensão com o Congresso adicionam risco à economia

    Enquanto dados econômicos eram divulgados, Brasília enfrentava um dos momentos mais tensos do ano. A derrubada de vetos ambientais, a chamada pauta-bomba fiscal e as resistências à indicação de Jorge Messias ao STF consolidaram o “pré-divórcio” entre governo e Congresso. Carlos Hotz, CEO da A7 Capital, sintetiza o incômodo: “O que assusta o mercado é ver decisões tomadas por retaliação, não por racionalidade econômica”.

    A instabilidade política eleva o risco Brasil — e isso atrasa a redução dos juros.

    Enquanto o Ministério do Trabalho e o Banco Central não se acertam, um ponto se impõe: a Selic alta está no centro das travas da economia, atingindo do pequeno empreendedor às maiores cadeias produtivas do país.

    O Brasil segue esperando a decisão que falta — a que dirá quando, afinal, será possível voltar a acelerar.

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