Bolsas americanas perdem 6 trilhões de dólares em três dias com tarifaço de Trump
Desde a posse de Donald Trump em 20 de janeiro, Wall Street já perdeu quase 10 trilhões de dólares, segundo a consultoria Elos Ayta

As bolsas americanas perderam 6,2 trilhões de dólares desde o dia 02 de abril, quando o presidente Donald Trump assinou a ordem executiva que impôs tarifas recíprocas de, pelo menos, 10% sobre as importações dos demais países – incluindo o Brasil, cujas mercadorias foram taxadas em 10%. O cálculo é da consultoria Elos Ayta, que dividiu a conta em duas partes. As grandes empresas de tecnologia, conhecidas no mercado como as “sete magníficas“, perderam um total de 1,8 trilhão de dólares no período. Já o valor de mercado das demais empresas listadas em Wall Street encolheu mais 4,4 trilhões de dólares.
Entre as “sete magníficas” (Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet, Meta e Tesla), a Apple arcou com o maior tombo (637 bilhões de dólares), dado o grande peso dos fornecedores asiáticos em sua cadeia de produção. Para ter uma ideia do potencial impacto do tarifaço sobre os eletrônicos que produz, Taiwan, maior produtor de chips do mundo, foi sobretaxado em 32%.
Já a montadora de carros elétricos Tesla, controlada por Elon Musk, um convicto apoiador de Trump que integra seu governo, perdeu 160 bilhões de dólares em três dias.
Segundo a Elos Ayta, desde que Trump assumiu seu segundo mandato em 20 de janeiro, 9,9 trilhões de dólares evaporaram das bolsas americanas. As sete magníficas perderam 4,2 trilhões nesse período, lideradas pela Nvidia, a maior fabricante de chips para inteligência artificial do mundo, cujo valor de mercado tombou 991 bilhões de dólares. A Apple ficou em segundo, com perdas de 729 bilhões. A Tesla completa o pódio, com um tombo de 619 bilhões. Já as demais empresas listadas em Wall Street encolheram 5,7 trilhões de dólares desde 20 de janeiro.
No geral, o valor de mercado de todas as companhias listadas em Nova York recuou de 60,7 trilhões de dólares para 54,1 trilhões.
Os principais mercados do mundo registraram fortes quedas desde a última quarta-feira, quando Trump assinou a ordem executiva confirmando as tarifas recíprocas. As sobretaxas entraram em vigor em 5 de abril e uma nova rodada passará a valer a partir de 9 de abril, quando as serão acrescentadas à conta as tarifas diferenciadas para os países e regiões com os quais os Estados Unidos registram os maiores déficits. É o caso da China, taxada em 34%, e da União Europeia, cuja alíquota será de 20%.
A implosão dos mercados azedou o humor dos tubarões de Wall Street – incluindo muitos dos que apoiaram a eleição de Trump. Um exemplo é Jamie Dimon, presidente do conselho de administração e executivo-chefe do JPMorgan Chase, o maior banco de investimentos dos Estados Unidos. Em sua carta anual aos acionistas, Dimon alertou para os possíveis impactos do protecionismo trumpista. O executivo afirmou que, caso a nova política externa americana contribua para o enfraquecimento econômico da Europa, “o cenário se parecerá muito com o mundo antes da Segunda Guerra Mundial”.
Para ele, se a fragmentação do Velho Mundo significar que cada país estará livre para estabelecer as relações que julgar necessárias à sua sobrevivência e ao seu futuro, a situação “pode muito bem significar relações mais próximas com a Rússia e o Irã por energia, e com a China por comércio e economia”. No limite, Dimon vislumbra um mundo em que as nações europeias se tornem “estados vassalos” dos chineses e dos russos. “A economia é a cola de longo prazo, e o ‘América Primeiro’ é bom, desde que não termine em ‘América Sozinha”.
Os agentes financeiros do Brasil também começam a passar a limpo sua avaliação do republicano. Nesta segunda-feira 7, Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos afirmou, em relatório enviado a clientes, que “os investidores esperavam que o presidente Trump trouxesse inicialmente boas notícias para a economia, como redução de gastos e de impostos corporativos, que eram promessas de campanha, e que a retórica das tarifas ficasse apenas no campo da tática de negociação típica de Donald Trump”.
Para Ferreira, o mercado agora percebe que a Casa Branca não estava blefando. “O governo Trump optou por focar suas energias nas políticas de tarifas, que não são apenas retórica, enquanto as outras pautas parecem ter ficado para depois.”