Bancos digitais na porteira da agropecuária
Com investimentos altos em tecnologia, grandes instituições financeiras e fintechs revolucionam a oferta de serviços bancários aos produtores

A revolução digital que transformou o setor financeiro está remodelando o agronegócio brasileiro. Impulsionada por um aumento de 289% nos investimentos em tecnologia pelo setor de bancos, segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2023, essa transformação não apenas modernizou os serviços urbanos, mas também revolucionou o acesso ao crédito e a soluções financeiras no campo. Grandes instituições como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, junto com as agfintechs — empresas que aliam tecnologia e serviços financeiros para o setor agrícola —, lideram essa mudança por meio de marketplaces digitais e linhas de crédito simplificadas.
O Banco do Brasil, pioneiro no crédito rural, lançou em 2020 a Broto, plataforma que já movimentou 7 bilhões de reais em negócios e conta com mais de 215 000 produtores cadastrados. “A digitalização dessa jornada possibilita o fornecimento de uma boa experiência ao produtor, onde quer que ele esteja”, afirma Evaldo Gonçalo, presidente da Broto. Além de oferecer crédito para custeio e investimentos, a solução digital do BB está expandindo suas funcionalidades. É o caso do barter (operação para facilitar a obtenção de insumos) digital, que será lançado em breve e permitirá ao produtor pagar insumos com sua produção futura, eliminando riscos de mercado e oferecendo condições de negociação mais vantajosas. “Trata-se de uma solução mais ágil e segura que o barter tradicional, já que as operações serão registradas em blockchain”, diz Gonçalo.
O Bradesco inovou com o E-agro, marketplace que integra crédito digital à venda de máquinas, insumos e tecnologias agrícolas. Com 40 000 usuários e 1,5 bilhão de reais em crédito concedido desde 2023, a plataforma se destaca por ser omnicanal — estratégia que integra diferentes canais de atendimento para fornecer uma experiência unificada ao cliente. Nadege Saad, presidente da plataforma, afirma que o E-agro facilita operações off-line: “Nosso sistema possibilita que o agropecuarista insira dados sem internet e conclua suas operações quando estiver conectado”. O Bradesco também inovou ao implementar CPRs digitais (Cédulas de Produto Rural, títulos que permitem ao produtor obter recursos antecipados com base na produção futura), mediante o uso de equipamentos agrícolas como garantia, e estabeleceu parcerias com cooperativas para intermediação de crédito.
A Orbia, outro player relevante, une venda de insumos a soluções financeiras inovadoras. Em parceria com o Itaú BBA e a fintech Agrolend, oferece crédito com taxas até 50% inferiores à média do mercado, com liberação em até seis dias e sem exigência de garantias físicas. Por meio do Orbia Clube, programa de fidelidade, proporciona acesso à internet banda larga, atacando diretamente a falta de conectividade rural. De acordo com Ivan Moreno, presidente da Orbia, a iniciativa busca combater o gargalo do isolamento, que ainda afeta grande parte das propriedades. “Facilitar o acesso à tecnologia é essencial para a transformação digital no agro”, diz Moreno.
Apesar dos avanços significativos na transformação digital do agronegócio, persistem desafios importantes. A conectividade limitada — cerca de 60% das propriedades rurais ainda não têm acesso adequado à internet — e a necessidade de capacitação dos produtores são obstáculos a ser superados. No entanto, iniciativas como Broto, E-agro e Orbia demonstram a disposição do setor financeiro para desenvolver soluções que integram crédito, tecnologia e serviços essenciais, pavimentando o caminho para um agronegócio mais eficiente e conectado.
Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2024, edição especial nº 2923