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Austericídio fiscal: o dia em que o PT e Gleisi Hoffmann atacaram o trabalho de Haddad

Episódio de 2023 mostra o tamanho do abismo entre a racionalidade econômica de Haddad e o populismo fiscal de Gleisi, do PT e — agora — do próprio Lula

Por Márcio Juliboni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 mar 2025, 12h21 - Publicado em 10 mar 2025, 11h13

Em 9 de dezembro de 2023, um sábado, o PT realizava o último dia da Conferência Eleitoral Marco Aurélio Garcia, que reuniu cerca de 1.500 dirigentes do partido em Brasília. O objetivo era traçar as estratégias para as eleições municipais do ano seguinte — e o desempenho da economia no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva era uma peça-chave para fortalecer os petistas nas urnas. O painel “A política econômica do governo Lula: feitos e perspectivas para o próximo período” colocou em evidência a gritante divergência entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a então presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que tomará posse nesta segunda-feira 10 como a nova ministra de Relações Institucionais.

Durante o painel, Gleisi defendeu que o crescimento da economia deveria ser a “principal meta” de Haddad em 2024. Segundo a futura colega de gabinete de Haddad, na campanha presidencial de 2022, Lula não defendera a austeridade fiscal e ganhara com um discurso “expansionista”. Portanto, o “mercado já sabia” que o ex-metalúrgico aumentaria os gastos para impulsionar a economia.

Demonizando o então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem chamou de “bolsonarista” e “neoliberal”, Gleisi acrescentou que, sem poder contar com a redução dos juros, o único recurso do governo para estimular o crescimento era a política fiscal. Temerosa de que esfriar a economia fortaleceria a “extrema direita” no ano seguinte, Gleisi vocalizou em alto e bom som o que ela e o PT defendiam como solução: tolerar o déficit das contas públicas em nome da expansão econômica.

“Não acredito que um déficit a mais, no ano que vem (2024), vá fazer diferença”, disse. Em outro momento, acrescentou: “Eu acho sinceramente que a gente não deveria se preocupar com o resultado fiscal no ano que vem. Por mim, faria um déficit de 1% ou 2% (do PIB), que não iria mexer na economia.”

Haddad, por seu lado, defendeu o ajuste fiscal e lembrou que, em 2023, no primeiro ano do governo Lula, o país sairia de um déficit primário de 2% para algo próximo de zero. O titular da Fazenda observou que o melhor caminho era cortar gastos para que o BC fosse “constrangido” a baixar os juros, criando um círculo virtuoso. Quanto menores os juros, menor seu peso na dívida pública e no montante que o governo precisa pagar aos credores.

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Na ocasião, Haddad defendeu que o ajuste fiscal fosse realizado por meio da revisão de gastos tributários, com vistas e eliminar isenções fiscais e regimes especiais de tributação, e pela maior “racionalidade tributária”, fazendo com que quem não paga impostos o faça.

No momento de maior embate com Gleisi, o ministro afirmou que “não é verdade que déficit faz (a economia) crescer”. Ele lembrou que, nos dez anos anteriores, o país acumulou um déficit fiscal de 1,7 trilhão de reais, sem que houvesse um salto de prosperidade. Em contrapartida, nos dois primeiros mandatos de Lula, o país registrou superávits de cerca de 2% do PIB, permitindo um crescimento médio de 4% ao ano. “Não tem bala de prata”, sublinhou Haddad. “Não existe: ‘faz o déficit e resolve tudo’. É um conjunto de medidas para fazer a economia crescer”, acrescentou.

Apesar do esforço, Haddad não convenceu os companheiros de legenda a apoiar o controle das contas. A resolução do Diretório Nacional do PT publicada após a conferência ficou famosa, por defender que “o Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal, ou não teremos como responder às necessidades do país.”

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Esse é o conflito que Lula trará para dentro do Palácio do Planalto a partir desta segunda-feira 10, quando dará posse a Gleisi como nova ministra de Relações Institucionais. O ato deverá isolar ainda mais Haddad na defesa do ajuste fiscal. É bastante revelador que Gleisi, que presidiu o PT até semana passada, ganhe um lugar no governo a pouco mais de um ano das eleições presidenciais de 2026. A pressão pelo populismo fiscal vai disparar no coração do governo e pode concluir a fritura de Haddad, no momento em que alguns aliados de Lula já pedem sua cabeça e o culpam pela queda da popularidade do chefe.

Veja a resolução do Diretor Nacional do PT que ataca o “austericídio fiscal”:

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