Atuação dos Correios no comércio virtual cai quase 20% em 6 anos
Governo Bolsonaro estima que privatização deve ocorrer em até 5 anos, antes de transportadoras privadas assumirem a dianteira na entrega de pacotes
A participação dos Correios no setor de e-commerce caiu quase 20% nos últimos seis anos. Estudo conduzido pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) apontou que a atuação da estatal passou de 81%, em 2013, para 62,5% neste ano. No mesmo período, o uso de transportadoras privadas mais do que dobrou. O índice saltou de 15% para 33,4%.
O aumento na procura por transportadoras privadas é visto com preocupação pelos técnicos do governo de Jair Bolsonaro que desejam privatizar os Correios nesta administração. Reportagem da edição desta semana de VEJA mostra que a venda da estatal precisa ser concluída em até 5 anos, quando transportadoras privadas deverão ultrapassar os Correios na entrega final de pacotes e produtos (etapa conhecida como “last mile delivery”). O governo entende que, se a estatal deixar de ter o protagonismo na prestação deste serviço, o seu valor de mercado cairá drasticamente e a privatização será inviabilizada.
Segundo o levantamento da Abcomm, a procura pelos Correios entre lojistas com faturamento acima de 10 milhões de reais mensais caiu para menos de 30%. Os maiores dependentes dos serviços da estatal são micro e pequenas empresas que não possuem condições de arcar com os custos de uma frota própria ou das transportadoras terceirizadas. É este o setor que mais sofre com a crise nos Correios.
Para quase um terço dos entrevistados pela Abcomm, os serviços oferecidos pelos Correios são péssimos ou ruins. Outros 45,8% dizem que a atuação da estatal é razoável. Aqueles que classificam os trabalhos como bons são 22,2%, enquanto o índice dos que fizeram a avaliação como excelente é de 1%.
A principal crítica aos Correios, segundo 64% dos entrevistados, é com relação aos “preços abusivos” – o índice era de 39% na pesquisa feita em 2017. Como o serviço postal cai a uma velocidade de 10% ao ano, a estatal teve de encarecer a entrega de encomendas, área que lhe é mais rentável. Lojistas ainda reclamaram do “atraso nas entregas” (59,7% ) e da “demora nas tratativas” (41,7%).
Também aumentou o prazo de entrega em cidades como o Rio de Janeiro, de 5 para 6 dias, e Porto Alegre, de 6 para 7 dias. O restante das capitais se manteve estável, mas com índices elevados. Um pacote leva 7 dias para ser entregue em Brasília, 10 em Recife e catorze em Manaus. O menor prazo está concentrado em São Paulo, com média de 4 dias.
O presidente da Abcomm, Mauricio Salvador, afirmou que os resultados da pesquisa reforçam a necessidade de se privatizar os Correios. “Está mais do que comprovado que o Estado não tem competência para administrar empresas. Ele precisa dar foco em saúde, segurança e educação. O modelo atual dos Correios está sufocando o crescimento do comércio eletrônico no Brasil”, disse.
O governo só pretende colocar em prática as privatizações de estatais depois da aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso. A previsão mais realista sugere que o processo envolvendo os Correios só poderá ser concluído em 2021.
A pesquisa da Abcomm foi realizada entre os dias 22 e 29 de abril deste ano. Foram coletados 467 questionários em conjunto com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ComSchool). O levantamento tem grau de confiança de 95 e margem de erro de 6% para um universo de 31 mil lojas virtuais ativas no Brasil.
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