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As varejistas Cobasi e Petz brigam pelo mercado de animais de estimação

Elas tentam ainda conter o avanço de uma rival que cresce na internet

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 jun 2024, 14h37 - Publicado em 6 mar 2020, 06h00

As noites ao relento nos quintais das grandes cidades definitivamente fazem parte do passado. Há algum tempo cães e gatos têm colhido os louros do fenômeno da “humanização” dos animais de estimação no país e agora, além de usufruírem o aconchego do lar de seus donos, tornaram-se um segmento de consumo que atiça a cobiça dos fabricantes e comerciantes de uma infinidade de produtos e serviços. Segundo dados do Instituto Pet Brasil, que contabiliza as estatísticas da área, o país concentra uma população de 139,3 milhões de pets, dos quais 54,2 milhões são cães e 23,9 milhões, gatos — o restante da fauna que habita casas e apartamentos inclui aves, roedores, peixes e até répteis. Tamanho contingente está no foco de um ramo de negócios que movimentou no ano passado 35,4 bilhões de reais, volume 3% maior que o registrado em 2018. E, em meio a uma miríade de lojas, pet shops e clínicas veterinárias de bairro que atendem os donos de bichos domésticos, destacam-se empresas que constituem verdadeiros colossos voltados para o bem-estar de ambos — os donos e os bichos. Trata-se de companhias que oferecem unidades com configuração que lembra a de hipermercados e lojas de departamentos e estão envolvidas em uma disputa feroz pela preferência do consumidor.

A mais antiga no ramo é a Cobasi, empresa que fatura 1,3 bilhão de reais ao ano. Fundada em 1985 como uma loja que vendia, entre outros produtos, ração e medicamentos de uso veterinário, operou por anos sem lucro, sustentando-se com negócios correlatos de seus fundadores, proprietários de fazendas. A partir da década de 90, com o avanço da onda pet, mudou seu foco e refinou seu alvo para os bichinhos que viviam em casas e apartamentos. Atualmente, cravou sua centésima loja em um vistoso shopping center em uma região nobre de São Paulo e se prepara para a abertura de um núcleo de inovação que vai desenvolver soluções digitais direcionadas aos clientes. Batizada de Cobasi Labs, a nova área já tem vinte funcionários dedicados a avançar do modelo de lojas físicas para as chamadas experiências oferecidas em ambiente virtual. Essa empreitada vai além da possibilidade de comprar pelo site e também permitirá ao cliente agendar pelo celular consultas e outros serviços referentes aos animais. “Os pets de certa forma suprem as carências emocionais das pessoas, principalmente no ambiente tecnológico em que vivemos hoje. Acreditamos que é possível associar esses dois aspectos da vida moderna e, é claro, vender nossos serviços e produtos”, raciocina Ricardo Nassar, membro da família fundadora da Cobasi e sócio-diretor da empresa.

Com sua loja coruscante em um shopping de luxo e seu núcleo de inovação, a Cobasi busca responder aos movimentos de sua principal rival, a Petz, que se expandiu de forma vertiginosa nos últimos anos. Fundada em 2002, em São Paulo, com o nome de Pet Center Marginal, óbvia referência à localização, na Marginal Tietê, a rede ganhou um empurrão considerável ao receber como sócio o fundo de private equity americano Warburg Pincus, que comprou mais de 50% da operação da empresa em 2013. O plano dos americanos não tinha nada de modesto: transformar a já rebatizada Petz em uma das maiores redes do mundo. Com 106 unidades, ela já ultrapassou a pioneira do mercado brasileiro em número de pontos de venda, mas ainda está atrás no quesito faturamento anual, na casa de 1,2 bilhão de reais. Ambas as empresas apostam em lojas espaçosas, em torno dos 1 000 metros quadrados, e em endereços privilegiados, como avenidas de grande tráfego.

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Na briga pela liderança absoluta do setor, a Petz se prepara para um passo mais ousado. No último dia 19, a companhia registrou um pedido para oferta pública inicial de ações na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Na operação, serão vendidas as ações hoje detidas pelo Warburg Pincus e parte dos papéis do fundador da empresa, Sergio Zimerman. Em relação à rival, a Petz se arrisca mais em inovação nos pontos de venda. Foi a primeira rede de pet shop a oferecer um hotel e uma creche para cães e gatos. Algumas de suas 106 lojas contam com self checkout, sistema de autoatendimento por meio de máquinas que dispensa o auxílio de operadores de caixa e que dispõe de recursos de realidade aumentada para entreter a clientela — tanto quadrúpede como bípede.

Embora as duas redes imponham respeito por suas dimensões, elas detêm, juntas, apenas 13,5% das vendas no varejo pet. Ou seja, ainda existe um espaço considerável para expandir-se. O problema é que não estão sozinhas. Outra companhia, a Petlove, cresce com a venda direta a consumidores e veterinários pela internet. Com uma filosofia de startup e faturamento de 315 milhões de reais, a companhia, fundada no fim dos anos 1990, tem comprado concorrentes do mundo on-line e projeta um faturamento de 2,5 bilhões de reais em 2024. Em meio a tal voracidade, haja ração para abastecer as tigelas da bicharada.

Publicado em VEJA de 11 de março de 2020, edição nº 2677

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